(Foto: Cielo Cardona via cathopic.com)
Padre Nicolás Schwizer– A grande desaprovação dos incrédulos modernos é o silêncio de Deus. Levantam os olhos para o céu, mas não recebem um sinal nem uma resposta de Deus. Assim também muitos dos que creem, talvez nós mesmo, sentimos que Deus está na escuridão e se cala. Se nos queixamos do silêncio de Deus é porque não prestamos atenção ao Evangelho. Nele Deus nos fala. Mas o interessante é que a muitos não lhes interessa a Palavra de Deus, a mensagem que Deus lhes dirige, sua “Boa Nova”.
Há um livro que muitos cristãos não o possuem, e se o possuem não o leem tanto: o Evangelho. O Evangelho, a palavra de Deus, é sempre atual, está dita neste momento, nos repete continuamente, é novo cada dia, novo para cada ser humano. Quando comungamos, não comungamos com um Cristo que viveu há mais de 2000 anos, mas com um Cristo que está vivo hoje e que nos está amando hoje. E com o Evangelho é a mesma coisa: não escutamos a Cristo que fala aos que viveram há mais de 2000 anos: ouvimos a Cristo que nos fala agora, neste momento.
O Evangelho é como um espelho. Que temos que fazer com um espelho? Temos que mirar-nos nele. Cada um de nós pode ver-se neste espelho, refletir-se, denunciar-se, revelar-se. Mas, muitas vezes, neste espelho não vemos mais que aos outros: nos indignamos pela maldade e cegueira dos demais. Mas a palavra de Deus exige de mim, uma resposta. Em nossas relações humanas divina não pode haver um monólogo divino. O diálogo se nos impõe. E este diálogo produzirá fruto conforme a nossa participação humana. Se a palavra de Deus não dá fruto, não é por culpa da semente, nem sequer por culpa do semeador, mas por culpa do terreno onde cai.
Quantos sermões nós já ouvimos, quantas lições de catecismo, quantas exortações no confessionário! Nunca a palavra de Deus tem sido tão difundida como agora. Entretanto, como é possível que seja tão pouco fecunda em nossas almas? Tudo depende da disposição com que a escutamos, da abertura com que a recebemos. Jesus caracteriza quatro classes de cristãos, quatro classes de ouvintes da palavra divina:
- A primeira classe é como o caminho: duro, impenetrável, fechado pelo costume. A semente cai sobre eles sem poder penetrar em suas almas. Já ouviram uma infinidade de sermões, mas nenhum deles os fez mudar. Durante o anúncio da Palavra de Deus, estão pensando em suas preocupações habituais, em seus sonhos favoritos. Seria terrível se fossem revelados os pensamentos que eles têm, enquanto Deus lhes está falando.
- A segunda classe de ouvintes é a dos superficiais, a das almas sensíveis e entusiastas, mas que lhes falta perseverança e profundidade. Exaltam-se muito facilmente e se creem convertidos só pelo fato de sentirem-se comovidos. Tudo o que se lhes diz, lhes toca a alma, mas nada disso logra transformá-los.
- A terceira classe é a terra fecunda e profunda onde a semente poderia germinar. São os que têm boas qualidades para fazer algo por Deus e por seu Reino. Mas não têm tempo no meio de suas preocupações e agitações terrenas, e assim afogam a semente. Interessa-se por demasiadas coisas para poder ocupar-se ademais de Deus. Sempre encontra alguma ideia para discutir, algum defeito para lamentar, algum pretexto para não pensar na Palavra de Deus.
- Qual é, então, o terreno no qual a Palavra de Deus dá fruto? São aqueles que recebem a Palavra de Deus como uma revelação, os que se deixam esvaziar, tirar a máscara e transformar. São os que se reconhecem no espelho da Palavra, dizendo a si mesmos: Este sou eu. É a mim que se dirige. Sou eu quem tem que mudar. Neles a Palavra de Deus vai penetrando, amadurecendo, germinando, dando frutos maravilhosos.
Testemunha disso são os Santos de todos os tempos. E o modelo exemplar dessa atitude nós encontramos como sempre na Santíssima Virgem Maria. Ela respondeu a sua vocação por Deus de uma maneira significativa: “Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo tua palavra”. E em dois lugares diferentes, o Evangelho diz sobre ela: “Maria guardava todas estas palavras, meditando-as em seu coração”.
Perguntas para a reflexão
- A qual classe de ouvintes nós pertencemos?
- Com que abertura e disponibilidade nós aceitamos a Palavra de Deus?
- Com que docilidade e perseverança nós a realizamos?
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