A beleza da maternidade de Maria no coração da fé

Pe. Marcelo Cervi* – A Nota “Mater Populi Fidelis” acolhe décadas de reflexões e consultas sobre títulos marianos e oferece um discernimento sereno para iluminar a devoção do Povo de Deus a partir do próprio Evangelho. O eixo central da Nota é claro e profundamente consolador: Maria é Mãe do Povo fiel. Nela contemplamos o que a graça de Cristo pode operar na nossa humanidade e como Maria colaborou ativamente com a missão do Seu Filho.
Baseando-se na Bíblia e na Tradição, sobretudo no testemunho dos Padres da Igreja, a Nota insiste sobre a cooperação de Maria com a obra de Cristo. Desde o “sim” da Anunciação até o Calvário e Pentecostes, e, por fim, na vida da Igreja, Maria participa maternalmente da ação de Cristo: é a “Mulher” e a “Mãe” dada aos discípulos. Essa maternidade espiritual não concorre com Jesus; ao contrário, manifesta a eficácia única da sua mediação. Cristo é o único Redentor e Mediador; Maria, plenamente redimida por Ele, coopera de maneira subordinada e ativa, sobretudo pela intercessão e pela proximidade que dispõem os corações à graça que só Deus infunde.

O destaque para a maternidade de Maria

A esse propósito, a Nota cita o ensinamento magisterial de São Paulo VI na “Marialis cultus”, que permanece válido e iluminador: “na Virgem Maria, de fato, tudo é relativo a Cristo e dependente d’Ele: foi em vista d’Ele que Deus Pai, desde toda a eternidade, a escolheu Mãe toda santa e a plenificou com dons do Espírito a ninguém mais concedidos” (25). Isso é o que a Igreja sempre ensinou e que, agora, o Papa Leão XIV quis recordar à Igreja, por meio do Dicastério da Doutrina da Fé.

A Nota cita títulos marianos tradicionais que exprimem afeição filial e são facilmente compreendidos (Auxílio dos cristãos, Esperança dos pobres, Advogada, Mãe dos Fiéis, Mãe da Graça), mas convida a usar com prudência expressões como “Corredentora” e “Medianeira”, que devem sempre ser muito explicadas. Longe de diminuir Maria, isso a honra na sua verdade: Ela, serva do Senhor nos conduz a “fazer tudo o que Ele disser”, manifestando a centralidade de Cristo na sua vida e na vida do Povo santo de Deus.

A valorização da piedade popular

No plano pastoral, o documento valoriza a piedade popular: santuários, ícones, romarias e invocações onde os pobres “encontram a ternura e o amor de Deus no rosto de Maria”. A Igreja aprende com ela a gerar filhos para Deus: no anúncio da Palavra, nos sacramentos e na caridade concreta. Como em Caná, Maria intercede – “Não têm vinho” – e educa – “Fazei o que Ele vos disser” – ajudando-nos a abrir a vida à ação do Espírito.

Disso se desprendem alguns critérios bastante claros:

a) Sempre colocar Cristo no centro: toda linguagem mariana deve fortalecer a união imediata do fiel com Jesus;
b) Enfatizar a “gratuidade da graça”: Deus, embora não “precisasse” de Maria; quis associá-la maternalmente ao seu projeto;
c) Recordar a função dispositiva: Maria em ordem à Graça, pede por nós e nos prepara para acolhê-la.

Em síntese, a Nota “Mater Populi Fidelis” confirma a mariologia católica ensinada há séculos: bíblica, eclesial, cristocêntrica e popular. Reacende nos corações o amor à Mãe de Jesus que Ele, na Cruz, entregou à humanidade como Mãe do Povo de Deus, encoraja a pedir a sua intercessão materna e protege a harmonia da fé, pois quanto mais verdadeira for a nossa devoção a Maria, mais brilhará Jesus Cristo, único Salvador. Por isso, a Igreja pode rezar com confiança: Mãe do Povo fiel, rogai por nós.

 

*Pe. Marcelo Cervi é da Diocese de Jaboticabal SP e pertence ao Instituto Secular dos Sacerdotes Diocesanos de Schoenstatt