Pe. Nicolás Schwizer– A Quaresma é um tempo privilegiado para afinar a meta de nossa vida e repassar nossos objetivos. Às vezes resulta uma revisão dolorosa e que exige sacrifícios. Jesus também passou por isso. Duvidou, buscou, foi tentado, ao largo de sua vida, e se impôs pela força e poder. Reflexionemos sobre suas três tentações e veremos que são as nossas também.
A primeira, poderíamos chamar de tentação do consumo. “Diga que estas pedras se convertam em pão”. É dizer, se quiseres, podes dar de comer a todos os homens. Sofrem, têm fome, não têm trabalho – podes assegurar-lhes o bem-estar material que desejam. Podes fazer milagres, o “milagre econômico”. Ele responde: “Não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus”.
Mas Jesus não nos pede que nos desinteressemos dos bens temporais. No Pai Nosso nos faz pedir: “Dá-nos hoje nosso pão de cada dia”. Temos que lutar pelo pão de cada dia. Temos que lutar por nós e por todos os homens. O que o Senhor nos pede é lutar contra a alienação do consumo e contra a ilusão de crer que a felicidade do homem coincide com a meta do consumo. Ele nos diz que o coração do homem reclama outros alimentos diferente do “ter”. E os pais entre nós sabem muito bem que seus filhos não só necessitam bem-estar material, mas que precisam também de seu tempo, sua atenção, sua palavra e seu amor.
Como uma criança, o homem necessita do amor de Deus seu Pai, desse Deus que falou e que tem algo que dizer-nos. E enquanto os homens não escutem esta palavra e enquanto não tratem de vivê-la, persistirá neles uma fome insatisfeita que os converterá em homens subalimentados e infelizes.
Todos formamos parte de nosso mundo e de nossa sociedade. E todos somos escravos do consumo, de uma ou outra forma: Pensemos no nosso carro, esse pequeno deus; no conforto da casa; nos brinquedos das crianças nos livros, que tal vez nunca serão lidos; em nossos vestidos e nossa roupa, etc. Temos fome de pão, fome de coisas materiais. Mas, temos também fome de Deus?
A segunda tentação de Jesus é a tentação do poder, a tentação de utilizar a força de seu Pai em proveito próprio. Mas Ele a rejeita: “Não tentarás ao Senhor, teu Deus”. É dizer: Tu não exigirás que Deus se coloque a teu serviço. Tu és quem há de servi-lo. A força de Jesus consiste em colocar-se plenamente a disposição de seu Pai, para servir aos irmãos.
Nós não nos livramos da tentação de utilizar a Deus, de colocá-lo a nosso lado, é dizer, de metê-lo em “nosso bolso”. Quantas vezes, a través da história, grupos humanos, nações, governos, exércitos ou partidos políticos tentaram aproveitar-se dos cristãos, da Igreja, de Deus, para levar a cabo seus próprios projetos!
E nós mesmos, não rezamos muitas vezes o Pai nosso às avessas: “Pai nosso que estais no céu, faça-se minha vontade”. É dizer, nos colocamos no centro, nos fazemos deus, no lugar d’Ele. E quantos homens se afastam assim de Deus, porque Deus não os obedeceu!
A tentação da idolatria. Tal vez pensemos: esta vez não me toca, são os pagãos os que adoram aos ídolos. Mas também em nosso mundo de hoje surgiram muitos ídolos: Desde o grande ídolo do dinheiro que adoramos todos, um pouco mais… ou menos. Até a multidão de ídolos ante os quais nos ajoelhamos diariamente: o maço de cigarros, ou a boa comida, a televisão, a moda, nosso corpo, também nossas ideias ou projetos.
Todos esses deuses fazem que pouco a pouco, e talvez sem dar-nos conta, vivamos inclinados, incapazes de viver de pé e de poder ajoelhar-nos livremente ante o único Deus.
Perguntas para a Reflexão
- Por que tipo de felicidade estou lutando?
- Que mundo estou construindo?
- Sou “explorador” de Deus, ou sou seu servidor e servidor de meus irmãos?
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Tradução: Lena Barros de Ortiz.