Reconhecer a vinda de Jesus Cristo como luz a ser acolhida, expandida e oferecida ao mundo: eis o grande desafio que o Natal e o Jubileu colocam diante de nós. Na terceira meditação do Advento, sobre A universalidade da salvação, o pregador da Casa Pontifícia, padre Roberto Pasolini, recorda que Cristo é a verdadeira luz, capaz de iluminar toda a complexidade da experiência humana.
Essa luz, explica o pregador, não elimina as perguntas, os desejos ou as buscas, mas as purifica, coloca em relação e conduz a um significado mais pleno. Ainda assim, o Evangelho afirma que “a luz veio ao mundo, mas os homens amaram mais as trevas”. O motivo não está na luz, mas na nossa disponibilidade de acolhê-la. “A luz é necessária e bela”, afirma o padre Pasolini, “mas também exigente: ela desmascara ficções, expõe contradições e obriga a reconhecer o que preferiríamos não ver”. Por isso, muitas vezes, nós a evitamos.
Viver na verdade
Jesus, porém, não opõe simplesmente quem faz o bem a quem faz o mal. Ele contrapõe quem pratica o mal àquele que vive na verdade. Acolher a luz da Encarnação não exige perfeição moral, mas um passo decisivo: parar de se esconder. “Deus está mais interessado na nossa verdade do que numa bondade de fachada”, recorda. Viver na verdade é permitir-se ser visto como se é, com luzes e sombras, sem máscaras.
A Igreja chamada à sinceridade
Esse chamado se estende à própria Igreja. Viver à luz de Cristo não significa exibir pureza impecável ou coerência sem fissuras, mas apresentar-se com sinceridade, reconhecendo fragilidades e resistências. “O mundo não espera uma instituição perfeita”, afirma padre Pasolini, “mas uma comunidade que, apesar de suas imperfeições, viva verdadeiramente à luz de Cristo e não tenha medo de se mostrar como é”.
Os Reis Magos tornam-se, aqui, imagem luminosa desse caminho. Vindos de longe, ensinam que, para acolher a luz do Natal, é preciso um certo distanciamento: um olhar mais livre, profundo e disponível à surpresa. A proximidade excessiva com rotinas, estruturas e responsabilidades pode, com o tempo, estreitar o olhar, dificultando o reconhecimento dos novos sinais de Deus na história.
Uma luz que se deixa encontrar
O Natal celebra a entrada da luz no mundo; a Epifania revela que essa luz não se impõe, mas se oferece. Ela se deixa reconhecer por quem aceita mover-se, buscar, sair de si. Nem tudo o que é verdadeiro se mostra de imediato, nem tudo o que é evangélico é imediatamente eficaz. Às vezes, a verdade precisa ser seguida antes de ser plenamente compreendida.
Os Magos caminham guiados por uma estrela frágil, mas suficiente. Eles ensinam que o encontro com Deus exige movimento, desejo vivo e disponibilidade interior. “Sem esse desejo”, alerta “até as formas mais elevadas de serviço correm o risco de se tornar repetitivas e autorreferenciais”.
A estrela é também sinal das formas discretas com que Deus continua falando: pelas periferias, pelas perguntas que brotam da realidade, por experiências inesperadas. Deus não fala apenas onde estamos acostumados a ouvir.
O risco da imobilidade
Em contraste com os Magos, surge a figura de Herodes: atento, informado, estrategista, mas imóvel. Ele quer saber tudo sem se envolver, proteger-se do risco do encontro. Essa atitude pode também habitar a vida eclesial: conhecer a doutrina, preservar a tradição, celebrar com zelo e, ainda assim, permanecer parado. Como os escribas de Jerusalém, podemos saber onde Deus está presente: nas periferias, nos pobres, nas feridas da história; e não encontrar coragem para ir até lá.
Levantar-se e ajoelhar-se
Para encontrar Deus, insiste padre Pasolini, o primeiro passo é sempre levantar-se: sair dos refúgios interiores, das certezas consolidadas, do conforto que protege, mas imobiliza. Levantar-se exige coragem, cansaço e confiança.
Mas o caminho da fé não termina aí. Ao chegar a Belém, os Magos se ajoelham.
“Levantar-se e depois ajoelhar-se: este é o movimento da fé”, afirma o pregador. Levantar-se para sair de si; ajoelhar-se ao reconhecer que o que se encontra não pode ser controlado. Esse gesto vale para a relação com Deus, para as relações humanas e para a própria Igreja, chamada a ir ao encontro e, ao mesmo tempo, a saber parar, escutar e reconhecer limites.
A verdadeira luz do Natal
Se Deus escolheu habitar nossa carne, então cada vida humana carrega uma luz, uma vocação e um valor inapagáveis. Não fomos criados apenas para sobreviver, mas para participar de uma vida maior: a vida de filhos de Deus.
A missão da Igreja, portanto, não é impor a luz de Cristo, mas oferecê-la. Não forçar o encontro, mas torná-lo possível. “Evangelizar não é levar algo que falta”, conclui padre Pasolini, “mas ajudar o outro a reconhecer a luz que já habita nele”.
Fonte: Vatican News





