Agosto é o mês das vocações

Ir. M. Ana Paula Ramos Hyppólito – Iniciamos o mês das vocações, tema já bastante conhecido, comentado… Porém, ele sempre permanece um grande mistério, pois toda vocação é, de fato, o mistério central da vida de cada pessoa, é o cerne íntimo entre ela e Deus, que, às vezes, nem a própria pessoa compreende em plenitude e só na eternidade será totalmente realizado.

Vocação, realização ou oblação?

Normalmente se diz que a vocação é a realização plena da pessoa, a partir do chamado de Deus. Ele coloca dons e inclinações naturais em nosso interior que precisam ser desenvolvidos no lugar certo, de jeito certo e na intensidade certa para que sejamos felizes e nos realizamos. Tudo bem, tudo isso é certo. Mas, a vocação pode ser contemplada de outro ângulo que, talvez, tenha um sentido mais profundo e mais coerente.

Pode acontecer que se buscarmos a vocação pela motivação maior de sermos felizes e nos realizarmos, talvez fiquemos no meio do caminho quando vierem as dificuldades, os contratempos, as desilusões. Desanimaremos. Mas se olharmos a vocação como colocar-se a serviço, desprendimento do eu para servir o TU, ou seja, ser instrumento, ser oblação, então, é mais provável que encontremos o caminho adequado para a realização e a felicidade. Estas serão consequência e não a meta.

Neste sentido, o Papa Francisco nos ensina, neste Ano de São José:

Deus vê o coração (cf. 1 Sam 16, 7) e, em São José, reconheceu um coração de pai, capaz de dar e gerar vida no dia a dia. É isto mesmo que as vocações tendem a fazer: gerar e regenerar vidas todos os dias. O Senhor deseja moldar corações de pais, corações de mães: corações abertos, capazes de grandes ímpetos, generosos na doação, compassivos para consolar as angústias e firmes para fortalecer as esperanças. Disto mesmo têm necessidade o sacerdócio e a vida consagrada, particularmente nos dias de hoje, nestes tempos marcados por fragilidades e tribulações devidas também à pandemia que tem suscitado incertezas e medos sobre o futuro e o próprio sentido da vida.

[1]

Ele continua, aprofundando a ideia da oblação e do serviço:

Uma segunda palavra marca o itinerário de São José e da vocação: serviço. Dos Evangelhos, resulta como ele viveu em tudo para os outros e nunca para si mesmo. O Povo santo de Deus chama-lhe castíssimo esposo, desvendando assim a sua capacidade de amar sem nada reservar para si próprio. Libertando o amor de qualquer posse, abriu-se realmente a um serviço ainda mais fecundo: o seu cuidado amoroso atravessou as gerações, a sua custódia solícita tornou-o patrono da Igreja. Ele que soube encarnar o sentido oblativo da vida, é também patrono da boa-morte. Contudo o seu serviço e os seus sacrifícios só foram possíveis, porque sustentados por um amor maior: “Toda a verdadeira vocação nasce do dom de si mesmo, que é a maturação do simples sacrifício”.[2]

Vocação é chamado de Deus, por isso, a busca por entender este chamado a fim de dizer sim a ele e assumi-lo até as últimas consequências é fundamental. Aqui já entra o estarmos atentos ao que Deus quer e não ao que nós queremos, em primeiro lugar, pois nem sempre as duas vontades estão de acordo e será necessário deixarmos o próprio querer para seguir o verdadeiro chamado divino. As circunstâncias, as pessoas, os próprios anseios mais profundos podem ser indicadores de caminho, nossa bússola. Mas a bússola principal é sempre a oração. Além disso, sermos verazes conosco mesmos no sentido de enxergar quais são as reais motivações que nos levam a nos decidir por este ou aquele caminho.

Como vivenciar o mês vocacional em família?

Você que lê este texto pode já estar vivendo há anos sua vocação e não está em busca dela, mas gostaria de viver bem este mês vocacional. Talvez a simples pergunta: como posso servir melhor as pessoas que convivem comigo na vocação que abracei? Seja um meio importante para aprofundarmos em nós o sentido da vocação! Ou o que posso ainda renunciar para que os outros tenham a vida em Cristo? E não precisamos pensar em coisas grandes, mas em pequeninas coisas do dia a dia: uma ajuda, um sorriso, um elogio, uma gratidão, um tempo dedicado em favor de alguém. O importante é que não seja só uma vez, mas uma atitude constante, que vai crescendo: sempre dar de mim para que os outros tenham vida.

Outras dicas são: rezar o terço juntos, em família ou na Paróquia, pela fidelidade e santificação dos sacerdotes e consagrados e suplicando boas vocações para a santa Igreja; falar para os filhos, netos e sobrinhos que ainda são crianças ou jovens sobre a importância de buscar, entender e assumir o chamado de Deus na própria vida.

Tudo isso pode perfazer o mês vocacional que a Igreja nos propõe. E algo importante também: agradecer a Deus pela vocação que Ele nos deu! Agradecer a cada dia! Ele nos olhou com misericórdia e nos elegeu para este caminho, para esta missão que temos, seja qual for: pai, mãe, profissional, leigo, catequista, sacerdote, consagrado, etc. Ele nos deu a vocação de sermos seus filhos muito amados e completará sua obra em nós se estivermos sempre abertos a nos deixarmos formar por Ele e por sua Santa Mãe!

 

Referências:

[1] MENSAGEM DO PAPA FRANCISCO
PARA O 58º DIA MUNDIAL DE ORAÇÃO PELAS VOCAÇÕES[25 de abril de 2021 – IV Domingo da Páscoa]

[2] Idem 1