Despojar-se de si mesmo em função do outro

 

Leonardo Prajo – Quando nos deparamos com a palavra “vocação”, logo vem a nossa mente a figura do padre ou até mesmo com a escolha do que seremos no futuro, porém, são coisa distintas. O significado da palavra vocação é amplo. Na questão religiosa, vocação é um chamado de Deus a uma determinada pessoa, e esse chamamento é feito de forma individual, bem como a resposta dada a esse chamado.

Quando Deus chama é impossível dizer “não”. Até podemos “evitar” esse chamado. Podemos fingir que não escutamos Deus bater à porta do nosso coração e dizer vem e me segue, mas, fica em nossa mente uma pergunta latente: será que estou fazendo o que Deus espera de mim? Será que estou dando meu melhor? É aí que se faz necessário um discernimento, um apontamento e quiçá um conselho para estruturarmos nossas vidas conforme nossa vocação. A filosofia nos diz que todo homem possui uma vocação em comum, que é ser homem. Porém, administrar e fazer dela um futuro melhor cabe a cada um de nós!

O Senhor nos chama

Jesus ao chamar Samuel, o chama por várias vezes, e ele, responde: “fala Senhor que teu servo te escuta”. Um chamado a vida religiosa é isso, Deus nos chama incessantemente para sua vinha, pois grande é a messe e os trabalhadores são poucos. Nós, como discípulos ouvintes, devemos silenciar nossos corações para ouvir esse Deus que nos fala no silêncio, no simples e no próximo, para poder responder assim como fez Samuel.

Atender ao chamado é um despojar-se de si mesmo em função do outro. É renunciar a uma vida para viver conforme Deus quer e não conforme a minha vontade. É passar por pedras e espinhos, por caminhos tortuosos, tropeços, quedas, inquietações, crises e desânimos, mas, com a certeza de que com Deus tudo podemos e sem Ele nada somos.

Maria: Jovem e destemida

Nessa perspectiva, Maria é um ótimo modelo de escuta e de uma vocação acertada. Jovem destemida, que disse seu “sim” de corpo e alma, sendo a maior de todas as vocacionadas. Ela não teve dúvidas e disse prontamente: “Eis aqui a serva do Senhor, faça se em mim segundo a vossa palavra” (Lc 1,38). É nesse mesmo exemplo que devemos trilhar a nossa vida vocacional. Sem ter medo de dizer o nosso sim, sem medo de nos arriscar indo para águas mais profundas, e desse modo, ser um verdadeiro vocacionado segundo a vontade de Deus. Dessa forma, ao dizer sim ao projeto de Deus, estamos imitando o que fez Maria quando foi chamada a ser mãe do Salvador.

Com isso, Maria é o exemplo para todas as vocações: de escuta, paciência, obediência, serviço e de fé. Em Maria encontramos duas características que são fundamentais para qualquer vocacionado: serviço e confiança em Deus. Assim, Ela é a fiel servidora do reino de Deus que nos convida a doar a nossa vida em favor do próximo.

Apontar caminhos e mudar vidas

Os passos que damos rumo à vontade do Senhor não são fáceis. A nossa vida é contingente e limitada, por isso, a dúvida, a dor e o sofrimento são constantes em nossas vidas. Diante do mar bravio do mundo, as ondas do desanimo, o medo das coisas, do futuro incerto, produz em nós sentimentos de individualismo e de fechamento ao nosso próximo. Cristo tem a capacidade de acalmar o tempo, aquietar corações, apontar caminhos e mudar vidas. Tenhamos coragem de seguir os passos do Senhor, caminhando às vezes rumo ao improvável, tendo sempre dentro do nosso coração que quem tem Deus nada falta.

Rezemos sempre por todas as vocações, pedindo a intercessão de Maria para que percorrendo seus passos sejamos fiéis servidores do reino para melhor amarmos a Deus, a nossa Igreja e aos nossos irmãos.

* Leonardo Prajo é Seminarista da Diocese de Bragança Paulista/SP, e está cursando o 1º ano de Teologia na Pontifícia Universidade Católica de Campinas/SP.