Renovar nossa experiência com Cristo

Pe. Bruno Aristídes Martins– Estamos já nos aproximando do Tríduo Pascal, centro de nossa fé, onde somos convidados, a cada ano, a renovar nossa experiência com Cristo, através do mistério que vivenciamos na Sagrada Liturgia. Talvez muitos de nós, tenhamos funções e trabalhos específicos ao longo desses dias em nossas paróquias, mas não podemos permitir que nossas preocupações em executar esses trabalhos, ou mesmo nossa ansiedade, nos roube de viver de modo sublime a liturgia desse Tríduo Pascal.

É o envolver do nosso coração com o coração do Cristo nesse mistério de sua paixão, morte e ressureição, que nos faz viver uma autêntica conversão na qual, ao contemplarmos tamanha oferta de amor, somos impulsionados a fazer da nossa vida uma resposta de amor a Cristo. Em cada dia desse Tríduo podemos conhecer os gestos do amor Dele, os quais são revelados pela Eucaristia, pela Cruz e pelo Túmulo Vazio.

Como modelo para a vivência deste mistério de Cristo, tomemos o exemplo de nosso Pai e Fundador, Pe. José Kentenich. Além de seu grande zelo em celebrar cada Santa Missa, ele vivia de modo singular cada Tríduo Pascal, permitindo que esse mistério se realizasse em sua alma e em toda Obra de Schoenstatt.

Na Quinta-Feira Santa, somos convidados a contemplar o mistério da Eucaristia, ápice e fonte do amor de Cristo por nós. Sua presença viva junto da Igreja é a certeza que, apesar das tribulações desse mundo, Ele permanece conosco e partilha da nossa história.  Com o Pe. José Kentenich, aprendemos a fazer da Eucaristia o centro de nossas vidas e não passar nenhum dia distante do sacrário. Pensemos nas diversas tribulações que a Obra de Schoenstatt viveu ao longo dos anos, também em suas grandes conquistas; todos esses momentos difíceis ou de vitórias sempre foram acompanhados pela oração Fundador diante do Sacrário. Da alma eucarística do Pe. Kentenich nasceram os anseios para que os diversos ramos da Obra Internacional de Schoenstatt, tivessem como fonte primaz do carisma a intimidade junto do Sacrário, da qual a Mãe de Deus nos convida constantemente em estarmos ali em sua casa para fazer companhia a Seu Filho. Sem a vida eucarística, sem a intimidade com o Sacrário, jamais teremos a santidade heroica que as constituições exigem de nossas almas.

A Sexta-Feira Santa é o dia no qual somos imersos no mistério do amor, do sofrimento e do silêncio. Junto do Calvário em companhia de nossa Mãe, saberemos compreender que a Cruz não é fonte de desespero, mas a grande obra do amor divino pela humanidade. Esse mistério foi muito bem contemplado no coração do Pe. Kentenich, como vemos em seus sermões e de um modo especial na Via-Sacra do Instrumento, a qual ele compôs durante o tempo em que esteve no campo de estação em Dachau/Alemanha. A cada estação ele relaciona a meditação do sofrimento do Senhor, com a espiritualidade e a história de Schoenstatt, nos fazendo entender que o mistério da Cruz é a pedagogia do amor, que nos forma para uma autêntica santidade.

“Concede-me carregar alegremente a lasca da cruz que o Pai me envia pelas circunstâncias da vida, para que a Inscriptio se comprove genuína e todo o meu ser e agir louvem filialmente o Pai”. (Rumo ao Céu, n. 255)

O nosso Fundador sempre teve uma plena certeza em sua alma: que nossa vida terrena é uma via sacra. Em cada sofrimento do dia a dia, somos convidados a seguir em frente e dar os mesmos passos que o Cristo deu, firmados num amor heroico e numa confiança inabalável na providência do Pai, de modo que nossa vida, unida à vida de Cristo, se torne uma oblação pela humanidade, na qual o Pai resgata e alcança os mais endurecidos corações.

Adentramos o Sábado Santo, dia no qual apoiamo-nos no coração de Maria, único lugar em que a fé permaneceu intacta diante de tantos sofrimentos e angústias. Maria, em seu coração doloroso, guardava com confiança as palavras de Jesus em que Ele afirmava que ressuscitaria após três dias. Essa certeza preencheu o seu imaculado coração, de modo que mesmo em extrema dor, permaneceu inabalável, em silêncio, renovando seu “Fiat” diante do sepulcro do Seu Filho morto. Após aquelas tão difíceis horas de uma profunda saudade que a Mãe sentia, o Pai glorifica o Filho e o ressuscita, fazendo do Túmulo Vazio o sinal da ressureição de Cristo, para que todos aqueles que acreditassem ao verem aquele lugar vazio, tivessem a certeza de que o Redentor estava vivo e presente.

Diante do mistério da ressureição, Pe. Kentenich, reconhece no Cristo o modelo do Homem Novo, sendo plenamente imerso na relação filial com o Pai, a qual é o caminho e a resposta para nossos dias. Nesse mistério, onde o Cristo vence a morte e é glorificado pelo Pai, temos a certeza do triunfo da verdade, do bem e da justiça diante das trevas e calamidades em que vivemos. O Cristo no mistério de sua ressureição, atrai para si todas as realidades de sofrimento e morte, para que Nele essas situações e circunstâncias se transformem em mistério de vida nova e em graça; e na medida em que Nele estamos vinculados, saberemos viver numa atitude de confiança e vitória, já desfrutando da alegria do Seu Reino que um dia chegará.

Que Maria, nossa Amada Mãe e Rainha de Schoenstatt, nos conduza nesse caminho sagrado e nos faça viver de modo profundo os mistérios desses dias, nos fortalecendo em nossa fé e nos fazendo crescer em nosso carisma. Assim poderemos dar abundantes frutos de santidade para a Igreja através de Schoenstatt.

 

* Pe. Bruno Martins é sacerdote da Arquidiocese de Sorocaba/SP