Ouvimos muitas vezes que os olhos são as janelas da alma. Janelas pelas quais transparece o que a pessoa é ou sente verdadeiramente; janelas pelas quais também ela entra em contato com o vasto mundo.

Os olhos de Maria puderam ver e contemplar o mais excelso, o próprio Deus. Ela pôde ver Jesus, como Deus encarnado, feito criança, viu-o crescer dia a dia: chorar, sorrir, sofrer e morrer. Como imaginamos serem os olhos de Maria? São olhos cheios de Deus.

Maria procurou descobrir a Deus em tudo: na escritura, nos acontecimentos de sua época, nas necessidades dos outros… tudo para ela era um vestígio de Deus. Esse exercício constante lhe permitiu encontrá-lo onde ele queria se manifestar. Talvez como o cego que estava à beira do caminho, também tenha dito: “Senhor, faze que eu veja” (Mc 10, 51). Na escola de Jesus, seu olhar se tornou clarividente. Pôde “ver” Deus nos pequenos e grandes acontecimentos, das pessoas boas que cruzaram pela sua vida, mas também dos que decidiram matar seu filho, dos algozes que o açoitaram e o pregaram na cruz. Tudo, absolutamente tudo, se tornou para ela uma transparência de Deus.

Que Maria nos presenteie seus olhos atentos e maternais, que veem o sofrimento alheio quando está oculto e nem sequer se pode perceber. Que leiam aquilo que as palavras não chegam a pronunciar. Que se fechem diante daquilo que não dignifica o outro ou a si mesmo. Que conceda benevolência aos nossos olhos, então buscarão a Deus e sempre o encontrarão.

“O que significa: Maria me presenteia seus olhos se eu lhe ofereço os meus? Como são esses olhos? São olhos que abençoam maternalmente, mas se agora eu lhe ofereço conscientemente meus olhos, isto me dará um direito maior ao seu cuidado maternal.
A Sagrada Escritura fala de Tobias, que devia empreender uma longa viagem para a qual recebeu um acompanhante. Era o Arcanjo Rafael. Tobias devia buscar sua esposa e fixou uma data para sua volta. O tempo tinha passado. Sua mãe começou a ficar muito preocupada. Entrava e saia da casa. Então decidiu subir a uma colina para ver se Tobias vinha se aproximando. Os seus olhos eram maternalmente atentos, olhos que abençoam com amor maternal. Assim são os olhos de Nossa Senhora. Quantas vezes já rezamos: ‘Vossos olhos misericordiosos a nós volvei’. Se eu lhe entrego meus olhos, cada vez que renovo a Aliança de Amor com ela pela manhã e à noite, tenho direito a esses olhos misericordiosos. Se Maria não nos contemplasse bondosamente, estaríamos perdidos. Se ela não nos dirigisse seus olhos misericordiosos, jamais alcançaríamos nossa meta, estaríamos sozinhos e abandonados.
É o mesmo que, quando se diz que Deus não nos dá nenhuma graça, sem que Maria una suas mãos suplicantes em nosso favor. São Bernardo nos explica o motivo: nós somos membros de Cristo e a Mãe de Deus nos contempla e se preocupa conosco como se preocupou com o Salvador.
Quanto se preocupou maternalmente com Jesus! O que não terá feito para vesti-lo e alimentá-lo! É o mesmo cuidado que Maria me dispensa, visto que, como membro de Cristo, também sou seu filho. Ela me presenteia o mesmo cuidado.
Por isso, escutemos mais uma vez as belas palavras: ‘consagro-vos neste dia meus olhos’ E o que ela responde? ‘Eu te entrego meus olhos, durante todo o dia dirijo a ti meus olhos misericordiosos’.
Se uma e outra vez renovo a Aliança de Amor com Maria, com o tempo também meus olhos serão transformados, tornar-se-ão misericordiosos. Então, meus olhos voltarão a ser puros” (Pe. José Kentenich, Paso Mayor, Argentina, 14 de abril de 1952).

Como o Pe. Kentenich viveu isso?

“Quando o Pe. Kentenich exercia o cargo de diretor espiritual em Schoenstatt, encontrou-se no corredor com um aluno do primeiro ano, muito tímido, que naquela ocasião sofria muito porque tinha muita saudade de sua mãe. Tinha uma ferida em sua mão e estava coberta. O Pai e Fundador não o conhecia, mas lhe perguntou o que tinha acontecido na sua mão. O menino respondeu, e então o Pai lhe pediu que tirasse a atadura para que pudesse olhar sua mão doente. Neste momento a saudade do pequeno desapareceu [pois sentiu que o diretor espiritual também cuidava dele com amor]” (testemunho de um aluno do seminário).

“Nunca ri tanto como no campo de concentração. Às vezes o Pai e Fundador tinha um rosto sério, mas nos seus olhos se podia ler a provocação do seu gracejo. Era a criança por excelência” (testemunho do Pe. Dresbach).

“Era uma homem distante e, ao mesmo tempo, muito próximo, que vinha de Deus e penetrava no coração. (…) Era a paz, era o olhar de Deus que vê a pessoa com critérios de amor” (Cedric Moller, E. Uruburu 1972, testemunhos)

Olhando para Maria, acompanhe as palavras do Papa Francisco:

“Olhai para Ela e deixai que Ela olhe para vós, porque é vossa Mãe e vos ama muito; deixai que Ela olhe para vós, a fim de aprenderdes a ser mais humildes e também mais corajosos no seguimento da Palavra de Deus; para acolher o abraço do seu Filho Jesus e, fortalecidos por essa amizade, amar todas as pessoas segundo o exemplo e a medida do Coração de Cristo […]. Olhemos, irmãos e irmãs, para a nossa Mãe, que está no coração de Deus. O mistério desta jovem de Nazaré não nos é estranho. Não é ‘Ela lá e nós cá’. Não! Estamos unidos. Com efeito, Deus dirige o seu olhar de amor também para cada homem e mulher, com nome e sobrenome! O seu olhar de amor dirige-se para cada um de nós” (Discurso à comunidade do Pontifício Colégio Português de Roma, 8 de maio de 2017).

* Trecho do livro Minha Aliança com a Mãe Admirável, Maria Clara Bercetche

 

Fonte: schoenstatt.org.br