Uma verdadeira catequese sobre o sentido da nossa vida como católicos: ser santo!
Ir. M. Ana Paula Ramos Hyppólito– Homenagear os santos é um ato louvável e importante, mas ainda faltam dois elementos essenciais para abrangermos a catequese dessa solenidade. O segundo é ter amizade com os santos. Cada um de nós tem algum santo de sua devoção particular. Nós, brasileiros, muitas vezes aprendemos com os mais velhos a acender velas, fazer novenas, pedir uma graça, peregrinar a um santuário, etc., mas isso ainda é o primeiro estágio da devoção aos santos.
Cultivar um verdadeiro vínculo com os santos, uma verdadeira amizade! Parece estranho? Mas não é! O mundo sobrenatural e o natural formam uma unidade! Muitos santos canonizados se inspiraram em outro santo para trilhar seu caminho de santidade. Por isso é importante ler biografias dos santos, conhecer sua vida, suas lutas, suas fraquezas, seus esforços. Sempre encontraremos semelhanças e pontos em comum entre eles e nós… Muitas vezes ficamos admirados em perceber que determinado santo ou santa tinha a mesma fraqueza ou um temperamento semelhante ao nosso. Não se pode imitá-los em tudo, pois cada pessoa é única e o caminho de santidade de cada um também é único, mas quantas vezes encontramos inspiração, forças e coragem para começar cada dia de novo, lendo o exemplo de um santo de quem gostamos!
Essa amizade com as pessoas da sobrenatureza nos leva também a colocar os pés no chão e cultivar boas amizades com as pessoas que estão ao nosso redor: na família, no trabalho, na comunidade… Não só amizades “virtuais”, em que não precisamos nos deparar com os limites, manias e jeito de ser da outra pessoa, mas amizades verdadeiras que crescem com a convivência, com erros e acertos, com diálogo, partilha, sinceridade, oração, silêncio, perdão. E esse é um bom meio para sermos santos, pois ninguém se santifica sozinho. A vida com outros, seja em que vocação for, é “mais vida” se for partilhada, enfrentada em conjunto. Podemos nos isolar em nosso mundo, em nossos pensamentos ou afastar os outros para longe com palavras, expressões fisionômicas ou gestos de autodefesa ou até de ataque. Mas então, estamos longe da atitude de Cristo que nos pede: “Sede santos como vosso Pai do céu é Santo!” (Mt 5,48).
Cada cristão, quanto mais se santifica, tanto mais fecundo se torna para o mundo.” “A santidade não te torna menos humano, porque é o encontro da tua fragilidade com a força da graça.”
[1]Essas duas frases da exortação apostólica Gaudete et exultate nos mostram que o melhor meio para ajudarmos o mundo a ser melhor é aspirando à santidade, segundo nosso estado de vida. Somos fecundos, úteis para o mundo, mesmo que não sejamos tão habilidosos nem tão inteligentes, mesmo que não sejamos expoentes da mídia ou que tenhamos um cargo público… O principal é que no meu dia a dia eu me decida a viver santamente, a fazer tudo o melhor que puder, a aproveitar cada ocasião menos favorável, indesejada ou difícil para subir um degrau acima, para mais perto de Deus e dos irmãos. Lembro-me de São Cura d’Ars… Quase não foi ordenado por não ter inteligência suficiente e se tornou um grande santo e pastor de almas, um sacerdote exemplar. Também Leônia Martin, a irmã menos talentosa de Santa Terezinha que está a caminho dos altares… Os santos não são obra própria, mas de Deus e Ele sabe transformar o “nada” em sua obra de arte! Também nós somos obras de Deus, Ele pode fazer do nosso nada um instrumento do seu amor.
Certamente, o que acontece em nosso interior é decisivo! Ninguém dá o que não tem, por isso cultivar o interior com oração, pensamentos otimistas, boas leituras, reflexão, exercitando olhar as situações e as pessoas com os olhos de Deus, que é misericórdia, é um treino importante.
Olhar e agir com misericórdia: isto é santidade.”[2]
No livro Santidade de todos os dias, que é um compêndio da espiritualidade de Schoenstatt, vivida pelo Padre José Kentenich e por tantos heróis do Movimento, lemos alguns meios práticos para o caminho da santidade:
Em seu livro sobre a humildade, Leão XIII nos dá uma norma de ouro para a vida prática: “Durante uma conversa, nunca contradigas a ninguém, em se tratando de questões duvidosas, que podem ser apreciadas ora de um modo, ora de outro! Cede, portanto, em coisas de menor importância, mesmo que estejas convencido de serem errôneas as convicções alheias! Mas em todas as ocasiões em que seja conveniente defender a verdade, age com coragem, todavia sem paixão, sem te exaltares, sem mostrar desprezo. Podes estar certo de que vencerás mais facilmente com serenidade e moderação do que através da impetuosidade e descortesia”.
Por isso São Tiago nos exorta: “Cada um deve ser pronto para ouvir, tardo para falar, lento para a cólera” (Tg 1, 19).
O amor misericordioso há de ser uma disposição permanente de nossa alma, sempre pronta a perdoar.O que Cristo ensinou, ele também o viveu(…). Ele encontrou o meio-termo entre a mansidão (amor) e a justiça, entre a mansidão e o amor à verdade. Quando disse: “Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração”, não queria referir-se à virtude passiva da mansidão, mas sim, à benignidade ativa, fruto do amor que se dá, que se dedica aos outros.
Somos cidadãos do céu! Não vivemos só para o hoje e para esta vida, mas nossa vocação, nossa meta é a eternidade. Nosso Pai e Fundador ensinava que as pessoas mais sobrenaturais são e devem ser as mais naturais. Que o empenho pela santidade na vida diária nos leve a ser e agir como pessoas sempre mais humanas, fraternas, desprendidas, porque trazemos em nós o gérmen de eternidade. Desafio!
Todos os santos, roguem por nós!
Refrências:
[1] FRANCISCO, Gaudete et exsultate
[2] FRANCISCO, Gaudete et exsultate