Exemplos de santidade no trabalho e na família

Maria Dulce Torres/Juliana Dorigo – João Pozzobon e São José têm muitos aspectos em comum: no modo de cuidar da família, na dedicação ao trabalho e na confiança filial em Deus. José era carpinteiro, esposo de Maria, pai terreno de Jesus e guardião da Sagrada Família. João era comerciante, dedicou sua vida para levar a imagem de graças da Mãe de Deus às famílias, sem deixar de cuidar de seus entes queridos.

Foi na carpintaria que José e Jesus trabalharam honestamente para garantir o sustento da família “Com ele, Jesus aprendeu o valor, a dignidade e a alegria do que significa comer o pão, fruto do próprio trabalho”.

[1] “[…] Esta pronta e generosa obediência a ele é o trabalho manual expresso nas formas mais modestas e cansativas, aqueles que renderam a Jesus a qualificação de “filho do carpinteiro (Mt 13,55)”. [2]

João Luiz Pozzobon era casado, teve sete filhos, depois netos. Exerceu várias profissões como: lavrador, hote­leiro e pequeno comerciante e, em meio a tudo isso, viveu plenamen­te o Evangelho. Ele serve de referencial exatamente pela sua condi­ção humana que o aproxima de todos nós que vivemos plenamente no mundo e com a responsabilidade por uma família.[3]

“O meu pai levantava todos os dias às 5 horas. A primeira coisa era escrever no diário. Ele registrava tudo o que fez, quilômetro por quilômetro. Por isso que se diz que ele caminhou 140.000 quilômetros. Ele andava um pouco até uma casa, depois mais um pouco até outra casa e dava quase dez quilômetros para ir e depois para voltar. Quando ele não estava com a Campanha, e somente rezava a noite nas famílias, ele tinha uma horta, então ia capinar, plantar alface, repolho, cenoura – tínhamos tudo em casa. Ele estava sempre plantando. Gostava de plantar frutas, pés de laranja, bergamota, maçã – tinha pé de tudo quanto era coisa na horta dele. Era bem ativo nessa parte. E também ele cuidava dos pobres; tinha um canto com um armário onde guardava mantimento, quando chegava um pobre dizendo que estava mal, sem comida, ele dava arroz, açúcar, feijão, ou remédio quando precisava”, conta Humberto Pozzobon.[4]

Trabalhando no pequeno armazém, João criou os filhos e garantiu o sustento para sua família. Ao passar dos anos, ele também passou a profissão para os filhos, para que tomassem conta do comércio enquanto, com a concordância deles, ele caminhava com a imagem da Mãe Três Vezes Admirável. “Precisava caminhar e, para isso, precisava sair de casa, da família, deixar os sete filhos e o armazém. E ele tinha que dar conta de tudo. Tinha que observar tudo. Mas Deus sabe organizar tudo direitinho. Então, todos lá em casa não saiam comigo a caminhar, mas nunca ninguém se opôs a que eu o fizesse.”[5]

“O trabalho torna-se participação na própria obra da salvação, oportunidade para apressar a vinda do Reino, desenvolver as próprias potencialidades e qualidades, colocando-as ao serviço da sociedade e da comunhão; o trabalho torna-se uma oportunidade de realização não só para o próprio trabalhador, mas sobretudo para aquele núcleo originário da sociedade que é a família”.[6]

Mesmo com a missão da Campanha da Mãe Peregrina e o trabalho no armazém, Pozzobon sempre foi presente em sua família e deixava claro que a família era a sua primeira missão. “Um homem sozi­nho pode mover o mundo. Eu havia dito à Mãe e Rainha que pouco importava mover o mundo inteiro, se descuidasse de minha família. Se isto acontecesse, não estaria fazendo nada…”[7]

“Lembro-me de quando íamos juntos à Missa, cedinho, na Paróquia, todos os domingos. Ele levava todos juntos à Missa. (…) Todos os dias, a noite, ele rezava o Terço conosco, rezava antes das refeições. Íamos sempre juntos nas cele­brações da Semana Santa. (…) Quando meu pai terminava os afazeres na sua venda, de­pois de fechar, e a mãe ia fazer a janta, para não atrapalhar a Mãe, ele ficava brincando conosco na sala. Ficava conversando e contava histórias alegres. Isso era muito bom”.[8]

João se revelava como verdadeiro educador, que buscava oferecer aos filhos uma formação integral nas dimensões física, afetiva, racional e religiosa. É impressionante a semelhança entre as vidas de José e de João! Pozzobon foi um grande instrumento de evangelização com Maria, um homem justo e caridoso com o próximo. E falando sobre José, como indica o Papa, “depois de Maria, a Mãe de Deus, nenhum Santo ocupa tanto espaço no magistério pontifício”.[9]

O Servo de Deus Pozzobon colocou-se inteiramente à disposição da missão de evangelizar, levando diariamente Maria com seu Filho Jesus a muitos lares, escolas, hospitais, presídios, rezando o terço e executando um grande trabalho pastoral de ajuda aos sacerdotes, mas nunca deixou a sua família.

O que podemos aprender com esses dois pais e trabalhadores exemplares?
De José, um Pai que sempre foi amado pelo povo cristão, devemos aprender o mesmo cuidado e responsabilidade: amar Jesus e sua e Maria, amar os sacramentos, a família e a Igreja. De João devemos aprender a confiança de que a Mãe de Deus cuidará de tudo. “Sou pequeno, mas quero ser grande no meu agir”[10]

Referências:

[1] Papa Francisco. Carta Apostólica Patris Corde, 08 de dezembro de 2020

[2] Papa Paulo VI, homilia Solenidade de São José, 19 de março de 1969

[3] MELLO, Alexandre Awi. João Pozzobon, evangelizador da família na pós-modernidade. Simpósio Teológico e Pastoral sobre a família. Pág 37.

[4] Humberto Pozzobon em entrevista: acesso em: João Pozzobon segundo seu filho – parte II – Schoenstatt

[5] MELLO, Alexandre Awi. João Pozzobon, evangelizador da família na pós-modernidade. Simpósio Teológico e Pastoral sobre a família. Pág. 116

[6] Idem. 2

[7] URIBURU, Esteban. Herói hoje, não amanhã, 61

[8] Nair Pozzobon de Souza, primeira filha de seu segundo casamento em: evangelizador da família na pós-modernidade. Simpósio Teológico e Pastoral sobre a família. Pág 117.

[9] Papa Francisco. Carta Apostólica Patris Corde, 08 de dezembro de 2020

[10] URIBURU, Esteban. Herói hoje, não amanhã, p.47