A quinta-feira santa nos recorda a última ceia do Senhor com os Apóstolos. Todos os momentos desta Última Ceia refletem a majestade de Jesus, que sabe que morrerá no dia seguinte, como também seu grande amor e ternura pelos homens. A Páscoa era a principal festa judaica e fora instituída para comemorar a libertação do povo Judeu da escravidão do Egito. Todos os Judeus tem obrigação de celebrar esta festa para manter viva a memória do seu nascimento como povo de Deus. A Última Ceia começa com o pôr do sol. São João nos diz que Jesus desejava ardentemente comer esta Páscoa com seus discípulos.

Nessas horas aconteceram coisas singulares que os Evangelistas tiveram o cuidado de transmitir-nos em pormenor: a rivalidade entre os Apóstolos que começaram a discutir qual deles seria o maior; o exemplo surpreendente de humildade e de serviço que Jesus dá quando se ajoelha e executa uma tarefa que se deixava aos servos mais ínfimos: “Começou a lavar os pés”; o amor e a ternura que manifesta pelos seus discípulos: “Filhinhos meus”… O próprio Senhor quis dar àquela reunião tal plenitude de significado, tal riqueza de recordações, de palavras e sentimentos, tal novidade de atos e preceitos, que nunca acabaremos de meditá-los e explorá-los.

O que Cristo fez pelos seus pode resumir-se nestas breves palavras de São João: “Amou-os até o fim”. Hoje é um dia especialmente apropriado para meditarmos nesse amor de Jesus por nós e no modo como o estamos correspondendo.

O Senhor antecipa de forma sacramental o sacrifício que consumará no dia seguinte, no Calvário. Até aquele momento, a aliança de Deus com o seu povo estava representada pelo Cordeiro Pascal sacrificado no altar dos holocaustos. Agora o cordeiro imolado é o próprio Cristo: “Esta é a nova aliança no meu sangue”… O corpo de Cristo é o novo banquete que congrega todos os irmãos: “Tomai e comei”… Imolação e oferenda de si próprio, como Cordeiro sacrificado, o Senhor inaugura nova e definitiva aliança entre Deus e os homens e com ela redime a todos da escravidão do pecado e da morte eterna.

Jesus nos dá a si mesmo na Eucaristia para nos fortalecer em nossa fraqueza, para nos acompanhar em nossa solidão e como antecipação do céu. Com a sagrada Eucaristia, que durará até que o Senhor venha, Jesus instituiu o sacerdócio ministerial.

Jesus permanece conosco para sempre na Sagrada Eucaristia, com sua presença real, verdadeira e substancial. Nós, nesta tarde, quando formos adorá-lo também nos encontraremos novamente com Ele. Ele nos vê e nos reconhece. Poderemos falar-lhe e, como faziam os apóstolos, contar dos nossos sonhos e das nossas preocupações e agradecer-lhe por permanecer conosco. Queremos permanecer com Ele, pois foi isso que pediu aos Apóstolos naquela noite: “Ficai aqui e vigiai comigo”. Ou seja, Jesus queria companhia, naquela hora de angústia. Queremos, então, acompanhá-lo em sua entrega de amor e unir a Ele as nossas pequenas e grandes “entregas”. Jesus sempre nos espera no sacrário.

“Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros”.

Jesus fala aos Apóstolos da sua iminente partida e então anuncia o mandamento novo, aclamado também em todas as páginas do Evangelho: “Este é o meu mandamento que vos ameis uns aos outros como eu vos amei”. Desde então, sabemos que a caridade é o caminho para seguir a Deus mais de perto e para encontrá-lo sempre.

O modo como tratamos e servimos os que nos rodeiam é o sinal pelo qual nos reconhecerão como os discípulos do Senhor. Jesus não fala em ressuscitar mortos nem qualquer outra prova evidente de que o seguimos. Mas nesta: “Que vos ameis uns aos outros”. O sinal que nunca engana é a caridade fraterna. E essa é também a medida do estado da nossa vida interior, especialmente da nossa vida de oração.

Nesta quinta-feira santa podemos perguntar-nos se, nos ambientes em que vivemos, as pessoas sabem que somos discípulos de Cristo pela forma amável, compreensiva e acolhedora com que as tratamos. Podemos perguntar-nos se procuramos não cometer faltas contra a caridade por pensamentos, palavras ou atos; se sabemos pedir desculpas quando tratamos mal a alguém; se temos manifestações de carinho com os que estão ao nosso lado: atenção, delicadeza, palavras animadoras, correção fraterna quando for necessário, o sorriso habitual e o bom humor, serviços que prestamos, preocupação verdadeira pelos problemas dos outros, pequenas ajudas que passam despercebidas…

Agora que está já tão próxima a Paixão do Senhor, recordamos a entrega de Maria no cumprimento da vontade de Deus e no serviço dos outros. A imensa caridade de Maria pela humanidade faz com que também nela se cumpra a afirmação de Cristo: “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos seus amigos”.

Texto baseado do livro Falar com Deus, Francisco Fernandes Carjaval, Ed. Quadrante.