Extrato do Sermão proferido pelo Pe. José Kentenich no ano de 1954:

Hoje de manhã, nossa santa mãe Igreja abriu-nos largamente a porta de acesso ao tempo quaresmal. Ela o fez imprimindo na nossa fronte a cruz de cinza, expressão da fundamental atitude que deve marcar nosso espírito até o repicar dos sinos pascais.

Ainda ressoam em nós as palavras do sacerdote ao tocar nossa testa com a cinza: “Memento, homo, quia pulvis es et in pulverem reverteris. – Recorda-te que és pós e em pó te hás de tornar”. Uma palavra antiga, muito conhecida, válida por todos os tempos, em todas as regiões. Válida para todos; válida também para nós. Sim, para nós que durante o ano demos tanta importância a aumentar nossos bens. Para nós, que nos ocupamos continuamente com nosso corpo e os cuidados pelo seu bem estar, sua saúde e sua beleza. Válida para os que receberam pelo rádio, pela televisão e pela imprensa incontáveis e convincentes recomendações sobre a cultura do corpo. Um dia, porém, o corpo a que dedicamos tantos cuidados será novamente reduzido a pó: voltará à substância e à matéria de que proveio. Recorda, pois, que és pó e em pó te hás de tornar!

São sérias estas palavras que ressoam na nossa alma. A Igreja orienta-nos a não volvermos tanto nossa atenção para o corpo e a que não nos concentremos quase exclusivamente nos nossos negócios, durante as próximas semanas. Voltemos nosso olhar ao alto. Sursum corda! – Ao alto os corações! Olhemos ao alto! Durante a Quaresma, coração e olhar fixam-se particularmente com grande e ardente amor na grande cena do Gólgota. E quando os sinos anunciam o sermão da Quaresma, ressoa em nosso espírito e em nosso coração a palavra de Jesus: “Quando eu for erguido da terra, atrairei todos a mim!” (Jo 12,32)

Assim explico vossa numerosa presença neste lugar sagrado. A grande imagem do Gólgota, com Jesus crucificado representada no coro de nossa Igreja da Santa Cruz domina nosso campo de visão. Muitas vezes contemplamos esta imagem sem refletir sobre ela, como fazemos com outras coisas na vida diária: o que vemos frequentemente não nos impressiona. Mas nas próximas semanas esta imagem deve gravar-se em nossas almas a ponto de se tornar parte de nossa vida diária, de ser encarnada e assumir forma e vida.

Nas próximas semanas, o Crucificado quer atrair a si o nosso coração e realizar as palavras: quando eu estiver elevado na cruz, atrairei todos a mim. Ele quer o meu coração, meu coração que durante o ano esteve tão repleto de cuidados materiais. O coração que pessoas sem conta, o mundo e o demônio também quiseram conquistar. Infelizmente, não sem resultado! Agora, o Crucificado chama mais vigorosamente a atenção sobre si do que em outros momentos. Faz valer seus direitos sobre este coração tão cobiçado. Quer atrair a si nosso coração para que lhe pertença até mesmo nas suas fibras mais íntimas. Cada pulsação deve pertencer somente a ele e a quem ele concede direitos sobre o nosso coração. Assim devemos interpretar a palavra: quando eu estiver elevado na cruz atrairei tudo a mim. Assim também compreendemos porque o toque dos sinos nos convocou em tão grande número a este lugar sagrado para o sermão de quaresma.

O crucificado não se cansa de nos atrair a si com força irresistível. Faz-nos esquecer dos afazeres de cada dia. Convida-nos a vir à Igreja para escutar suas palavras e responder ao chamado e convite do seu amor.


Pe. José Kentenich no ano de 1954, no livro Maria, Mãe e Educadora pág. 15s.