Sr. Humberto Pozzobon, em frente à Porta Santa do Santuário Tabor

 

“Nossa família toda é privilegiada”

João Pozzobon: um nome que traz à mente o heroísmo e a entrega por grandes ideais. Recentemente, cerca de 170 pessoas, de 14 nações, se reuniram para refletir e aprofundar a herança deste missionário, que dedicou boa parte de sua vida em levar a Mãe de Deus, com Jesus nos braços, ao encontro de todos que alcançava.

Hoje todos querem estar em saída, como João. Seu exemplo incendeia e alcança muitas nações: é tempo de viver a missão! Mas, ser missionário, para o Diác. Pozzobon, não era simplesmente sair levando uma imagem de Maria pelo mundo. Era preciso muito mais.

Numa conversa com Humberto Pozzobon, filho do Sr. João, fica claro que para seguir as pegadas daquele que iniciou a Campanha da Mãe Peregrina é preciso ser, em primeiro lugar, um missionário dentro do próprio lar. Humberto nos conta um pouco de como era a rotina familiar dos Pozzobon e as doces memórias que guarda do pai, sempre com uma pontinha de saudade. Acompanhe:

Como era o seu pai? Como o senhor, enquanto filho, descreve o seu pai?

Era um pai normal, igual aos outros. A gente o tinha como um pai amoroso, dedicado, que fazia de tudo pela família. Quando ele começou a Campanha, em 1950, a gente acompanhava, mas não tinha noção da grandeza que ela tinha. Então foi passando o tempo e a gente foi vendo que era simplesmente impressionante o que ele fazia, que ele era um homem totalmente dedicado à Mãe e Rainha, era capaz de dar a vida pela Mãe, temos muita gratidão por tudo o que ele fazia.

O seu pai não teria feito tudo isso, se consagrado inteiramente a serviço da Campanha, sem a ajuda da sua mãe. Ouvimos falar pouco dela, pois o foco está sempre em João Pozzobon. Fala-nos um pouco sobre a Sra. Vitória, como o senhor a descreve?

A Vitória, minha mãe, era também muito dedicada. Ela era amorosa com os filhos, estava sempre nos acompanhando. Em certas ocasiões, ela dizia: “João, quem sabe tu não quer que eu te acompanhe em alguma coisa”. E o meu pai dizia: “Não, Vitória, tu fica em casa cuidando dos filhos, da família, que já é uma grande coisa”. Então era assim, ela tinha aquela dedicação com a família. Sempre acontecia que o meu pai chegava cansado a noite – principalmente no fim de sua vida –, ele vinha cansado, arrastando os pés, e a minha mãe então preparava um lanche para ele, passava álcool nas suas pernas para ele descansar e ele se sentia confortável, se sentia bem.

Como era a vida familiar? O seu pai passava muito tempo fora, dedicando-se à Campanha, então como era a relação com ele, ele tinha tempo para os filhos?

Sim, ele tinha muito tempo, ele reunia todos. Quando era Natal, Páscoa, ele gostava muito de participar, de dar um presentinho para cada filho – ele colocava um para cada um no presépio –, era tão bom aquele tempo. Ele foi alguém que não podemos explicar, de tão impressionante que era, um homem maravilhoso mesmo. Era um pai que a gente nunca viu bravo. Algumas vezes ele podia estar de mau humor, mas bravo, assim, de xingar, a gente nunca viu isso nele. Uma vez ele me deu uma chamadinha de leve. Eu tinha que ir num evento e ele me chamou uma, duas, três vezes e eu não respondia, daí ele bateu com uma vara no chão dizendo: “Vem Humberto, vem!”. Depois me contaram que ele estava chorando de arrependimento por ter feito aquilo. É um coração lindo mesmo.

Quando vocês eram crianças, iam ao Santuário junto com seu pai?

Toda vez que a gente tinha uma oportunidade, que ele estava em casa, nós íamos. Nem sempre os horários davam certo, porque a gente tinha escola, várias coisas assim, mas a gente procurava sempre acompanhar os Terços quando eram rezados perto de casa; íamos sempre, rezávamos e era tão bom, juntava toda a vizinhança e era uma alegria ver todo mundo conversando. Eram lindos os Terços que ele fazia, cada pessoa queria fazer o altar mais bonito que a outra, era impressionante.

Seu pai sempre rezou o Terço fora de casa. Vocês também rezavam dentro de casa, entre pai, mãe e filhos?

Sim, nós rezávamos toda a família em casa, quando ele não estava. Porque sempre tinha uma imagem de Nossa Senhora e nós rezávamos.

O que o senhor mais admira no seu pai?

O que eu mais admiro é o fato de ele ser uma pessoa honesta, íntegra, que não deixava nada a desejar. A gente dizia, por exemplo: “Pai, vamos no centro fazer tal coisa?” Ele já saia, nem esperava, era decidido. E a gente fazia o melhor possível para acompanhar ele.

É natural, às vezes, que na adolescência os filhos fiquem rebeldes, que não sigam a orientação dos pais. Como o seu pai reagia quando os filhos tinham essas atitudes típicas dos adolescentes, como teimosia, etc.?

Ele tinha um caderninho onde colocava os nomes de todos os filhos e ali tinha uma cruzinha ou outro sinal. Então, por exemplo, se eu desobedecia, ele marcava uma cruzinha no meu nome. Isso a cada dia. E se fazíamos uma boa ação, ele riscava uma cruzinha. Quando chegava ao fim do mês, ele dava umas moedinhas, uma recompensa para estimular a pessoa a ser boazinha.
Ele fazia esse controle diário de cada filho, estava sempre controlando. Mas não assim, bravo, era tudo numa delicadeza muito boa.

O senhor se lembra de algo que ele tenha feito para sua mãe que te marcou, algo que tenha gostado de ver?

Temos lembranças das coisas boas que ele fazia: preparava um cafezinho, pegava lenha, fazia de tudo para agradar e deixar as pessoas contentes.

Na sua casa, o seu pai ajudava a sua mãe durante o dia? Como era? Temos uma imagem do seu pai sempre rezando, mas no cotidiano, qual era a rotina?

O meu pai levantava todos os dias às 5 horas. A primeira coisa era escrever no diário. Ele registrava tudo o que fez, quilômetro por quilômetro. Por isso que se diz que ele caminhou 140.000 quilômetros. Ele andava um pouco até uma casa, depois mais um pouco até outra casa e dava quase dez quilômetros para ir e depois para voltar. Quando ele não estava com a Campanha, e somente rezava a noite nas famílias, ele tinha uma horta, então ia capinar, plantar alface, repolho, cenoura – tínhamos tudo em casa. Ele estava sempre plantando. Gostava de plantar frutas, pés de laranja, bergamota, maçã – tinha pé de tudo quanto era coisa na horta dele. Era bem ativo nessa parte. E também ele cuidava dos pobres; tinha um canto com um armário onde guardava mantimento, quando chegava um pobre dizendo que estava mal, sem comida, ele dava arroz, açúcar, feijão, ou remédio quando precisava.

Quando o senhor começou a perceber a grandeza do seu pai?

Quase que no fim da vida dele, porque no início eu viajava bastante e não tinha muito tempo para ficar conversando. E quando eu estava em casa, a gente estava sempre junto e conversava sobre tudo o que tinha acontecido. A gente acompanhava tudo, mas não tinha noção da grandeza. Depois, quando a Campanha ficou grande, bonita, que todo mundo viu que ela tinha fundamento, então a gente também começou a perceber junto. E depois que ele faleceu, mais ainda, porque a gente não sabia de muita coisa que ele fazia. Depois que ele faleceu, foram abertos os seus diários, as coisas todas que ele escrevia, e a gente não sabia, pois não acompanhava o dia a dia dele. Ele era um homem que não fazia as coisas para aparecer, ele fazia porque gostava, era para Deus, não para as pessoas. Então depois que ele faleceu, começaram a aparecer as coisas. As pessoas diziam: “Nossa, mas ele fez tudo isso? Como pode?”. Eu que era filho ficava impressionado e fico até hoje com a grandeza dele.

O que significa para o senhor ter um pai tão especial?

Não tem explicação de tão grande que é. É glorioso, a gente se sente feliz, muito feliz, é uma grandeza que não tem tamanho. Nós nos sentimos gratos, agradecemos a Deus por ter um pai assim, é um privilégio, nossa família toda é privilegiada.

 

Por: Ir. M. Nilza P. da Silva/Karen Bueno, disponível em schoenstatt.org.br