(Romaria no Santuário de Atibaia/ Foto: Juliana Dorigo)

O peregrino torna-se peregrino por necessidade, obedecendo ao grito da alma

Carlos Padilla Esteban, via Aleteia– Sim, a peregrinação tem um significado. Um ponto de partida e uma meta. E, então, um caminho pelo qual meus pés correm, minha vida.

São passos marcados na terra, perfurados no céu. É a minha vida como um vento que sopra na mesma direção ou na direção oposta, seguindo a Deus na terra.

Sempre com um sentido que marca os passos e me leva ao fundo da minha alma. Deixando para trás trilhas que não precisam ser seguidas por ninguém.

O caminho é importante, vale a pena a meta pela qual deixo tudo para seguir os passos de Cristo.

E o começo é sempre um êxodo, uma saída de mim mesmo. Uma caminhada pela porta da minha casa e seguir em frente.

Deixar para trás o que me amarra, minha segurança, meu conforto. E me deixar levar pelo sonho que move meus passos.

Qual é o sentido de sair e deixar tudo? Quem me espera no fim da estrada?

Peregrinação: coragem para sair e deixar para trás

Tornar-se um peregrino é a tarefa de uma vida. Trilha de bagagem leve.

Eu tenho clara a meta que meus passos devem seguir. Eu quero deixar para trás o medo escondido em algum buraco da alma. E me despir da preguiça e indolência para poder andar.

Eu tiro as camadas de roupa que pesam sobre mim e não me deixam ser eu mesmo.

Ser peregrino é uma missão, uma tarefa, é uma vida inteira na estrada. Envolve sair e deixar para trás. Carregar o que o coração ama. E fica claro que a bagagem tem que ser leve.

Não tenho escolha a não ser carregar minha vida, minha história e minhas feridas. O que sou e com o que sonho. Meus planos e meus desejos.

Deixar para trás a estabilidade de casa e a segurança que anseio. E sair de mim, superando meus medos e minha resistência. Porque o medo de perder e falhar muitas vezes me paralisa.

Deixo minha desconfiança e angústia para trás quando sinto que nada está em minhas mãos e não controlo mais nada.

Procurando uma presença

Sair é sempre o começo, talvez seja o mais difícil, o primeiro passo. Porque significa abandonar a segurança e cantos acolhedores onde me permito viver com segurança.

Onde posso ser eu mesmo, escondido dentro de minhas paredes. Onde ninguém pode entrar se eu não deixar.

A peregrinação me expõe à vida, ao ar e a todos aqueles que fazem parte do caminho, me torno o dono daquele lugar público. Onde os riscos se multiplicam e eu sofro.

Só é possível dar o salto quando há algo que não tenho e anseio por isso. Algo que não me pertence.

Um desejo que só posso realizar fora de mim. Um lugar, um encontro, uma presença que não possuo, mas que desejo.

Portanto, a meta tem um nome completo que evoca um céu sem nome, no qual me projeto, embora não consiga nomeá-lo.

E eu sei que quando eu chegar lá, todos os meus passos farão sentido, ou quase todos eles.

O objetivo, a casa

O peregrino torna-se peregrino por necessidade, obedecendo ao grito da alma. E sei que nunca chegará ao seu destino final, até que um dia seja sepultado no caminho para o céu.

E, assim, sua caminhada desenfreada terá cessado, mergulhado em um profundo abraço com Deus, para sempre.

Você terá alcançado seu lar definitivo e não terá mais medo, nem mais nenhuma angústia habitará nele.

E você não precisará mais fazer peregrinação. Os desejos de sua alma já estarão quietos, realizados.

Bagagem leve

Sinto-me um peregrino cada vez que quebro a porta e deixo para trás o que me amarra. As paredes que me escondem, as seguranças que me acalmam.

Carrego levemente minha bagagem comigo e os medos da vida escondidos em meu bolso, para que não me perturbem.

E tenho uma vontade imensa de chegar àquela casa, ao meu santuário, onde alguém me espera.

É Maria quem habita aquela terra sagrada que peregrino. É Ela quem desperta meus sonhos, aquela que me promete a paz que me falta e aquele amor de que preciso.

Minha Mãe, ao me ver chegar, tira suavemente todas as minhas peles, camada por camada, até me deixar nu e seguro em seus braços.

Eu não tenho que me esconder lá, ela me conhece e me ama.

Por causa dela, que sempre me espera sorrindo, posso escalar montanhas impossíveis e percorrer caminhos que não terminam. Vencer as tempestades e superar o calor desumano.

E quando eu chego lá, descanso, vivo e durmo. Em suas mãos quentes, permito-me formar, mudar e renascer como uma criança.

Vale a pena o esforço da jornada. Vale a pena sofrer e sentir que, às vezes, me faltam fôlego e forças para cruzar a porta de sua casa. Eu gostaria de chegar mais rápido àquela casa que amo, mesmo sem ser dono dela.

 

Fonte: pt.aleteia.org