“Se é verdade que queremos ser o Tabor da Mãe de Deus, precisamos cuidar que isso se torne realidade. Daremos novamente Cristo à luz, criaremos a nova personalidade, nos tornaremos Maria” Ir. M. Nilza P. da Silva – Certa vez, ao visitar a casa onde nasceu o Pe. José Kentenich, em Gymnich, na Alemanha, fomos guiados por um senhor que morava nessa cidade e não pertencia a algum Ramo da Família de Schoenstatt. Era notável o entusiasmo dele pelo local e narrava sobre cada parte da casa com muito conhecimento. Ao chegarmos ao quarto, no sótão da casa, onde foi o nascimento de nosso Pai e Fundador, ele disse: “Aqui nasceu Schoenstatt. Aqui nasceu a Aliança de Amor, o carisma de vocês!” Confesso que me surpreendi com essa explicação. Mas, ele tem toda razão: Quando nasce o pequeno José Kentenich, vem a esse mundo também todo o mundo e a espiritualidade de Schoenstatt. Portanto, nesse dia nossa Família celebra o aniversário: 136 anos! Nesse dia, nasce o instrumento que Deus escolheu para ajudar muitas pessoas a transfigurar a realidade. Por isso, desde cedo, ele mesmo precisou transfigurar a sua própria realidade. Cito apenas alguns exemplos. Assim ele transfigura o doloroso fato e ter sido criado, a partir dos 9 anos, em um orfanato: Ao celebrar o jubileu de 25 anos de sacerdócio, destaca a importância central da educação de Maria na sua vida: “Ela (Maria) formou-me e educou-me pessoalmente a partir dos meus nove anos. Olhando o passado, posso dizer: não conheço ninguém que tivesse uma influência mais profunda sobre o meu desenvolvimento… minha educação é exclusivamente obra da Mãe de Deus, sem qualquer influência humana mais profunda”.² O fato de não ter saúde suficiente para ser enviado para a África como missionário e, por isso, ter sido nomeado diretor espiritual de seminaristas adolescentes, transfigura assim: “Há de ser vontade de Deus. Acedo de bom grado, firmemente decidido a cumprir do modo mais perfeito os meus deveres… Na realização de minha ideia predileta aplicarei somente o tempo que me sobrar.”³ Ele, que tinha como anseio ser confessor de grandes pecadores, está agora diante de adolescentes revoltados. Dois sacerdotes que lhe antecederam nessa tarefa se alquebraram e agora é ele quem tem nas mãos “jovens revolucionários, alunos revoltados”, como um deles expressou: “Aceito de boa vontade… Estou inteiramente à vossa disposição com tudo o que sou e tenho… sobretudo vos pertence o meu coração.”4 Ele ajudou esses rapazes a transfigurar não somente a crise contra as autoridades no seminário, mas, a ver a própria guerra mundial como um tempo de graças: “Conforme o plano da Divina Providência a grande guerra europeia é meio extraordinariamente proveitoso na obra de vossa santificação.”5 Sob a orientação do Pe. Kentenich, esses jovens se tornaram santos. “Engling é de fato um santo. João Wormer e Max Brunner vem logo depois. Estes são os milagres que a Mãe de Deus operou em Schoenstatt. Ela nos presenteou santos,”6 declara Pe. H. Hagel, que fora um desses adolescentes. Em Dachau, ele ensinava aos sacerdotes que “o tempo que deviam passar em Dachau devia ser aproveitado como uma espécie de segundo seminário para continuarem a se formar como sacerdotes e pastores de almas.”7 Um companheiro de prisão testemunha: “Chamou-me a atenção seu procedimento. Em todo o tempo da prisão, mesmo nas ocasiões caracterizadas por epidemias e ameaças, sempre tinha um procedimento equilibrado, tranquilo, amigável, afetuoso e amável.”8 O mesmo acontece durante o tempo de provação que a Igreja lhe impusera. As acusações, injustiças e proibições se avolumavam cada vez mais, no entanto, até isso ele transfigurava e dizia: “Mesmo que tenhamos de caminhar nas trevas, estamos sempre nas mãos do Pai, que nos abrigam e nos conduzem… Nossa Aliança de Amor com a Mãe Três Vezes Admirável é a garantia disso.”9 Assim poderíamos continuar a descrever centenas de situações em que Pe. Kentenich ajudou outros a transfigurar a realidade em que viviam e como ele também fez isso de modo tão admirável. É importante lembrar que transfigurar a realidade não significa não sofrer com ela, mas, na luz da fé, procurar ver Deus por trás de tudo e manter a esperança. Lemos num testemunho sobre Pe. Kentenich: “Sua natureza estava tão profundamente tomada por Deus e o divino que sua inteligência, sua vontade e seu coração interagiam em harmonia e todo o seu ser irradiava uma tranquilidade contagiante.”10 Aqui no Brasil, disse o Pe. Kentenich que “a transfiguração é uma questão de atitude. Que felicidade seria, se pudéssemos irradiar algo destas glórias do Tabor! (Diante de Pilatos, Jesus) exteriormente, está desprovido de forma e beleza, mas, ocultamente, sua natureza está transfigurada… O sofrimento não pode ser separado da transfiguração.”11 Essa capacidade divina que Pe. Kentenich tinha de transfigurar a realidade é fruto de seu amor filial heroico a Maria e de deixar-se educar por ela na Aliança de Amor. Peçamos essa graça também para nós, nesse dia especial.
[1] Pe. José Kentenich, 8 de abril de 1947, Jaraguá do Sul/SC – livro: Tabor nossa Missão ² J. Kentenich, Conferência de 11.8.1935. Fonte: schoenstatt.org.br Ele transfigurou sua realidade
Transfigurou as desilusões
Transfigurou duas guerras mundiais
Transfigurou as situações do exílio
Transfigurar é sofrer, mas, ver Deus
³ J. Kentenich em Documento de Pré fundação
4 – 5 Idem
7 Conferência do Pe. H Hagel em 1937
7 – 8 – 9 Engelbert Monnerjahn, Pe. Kentenich, Uma vida pela Igreja.
10 Ir. M. Annette Nailis, Pe. Kentenich como nós o conhecemos
11 J. Kentenich, Brasil Tabor Vol I
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