O Pai e Fundador, Pe. José Kentenich, valorizava muito e ensinava a cultivar as chamadas “pequenas virtudes”.

Essas virtudes chamam-se “pequenas”, porque sua prática quase não chama a atenção ou passa totalmente despercebida ao redor. Porém, são grandes diante de Deus.

Um jornal suíço faz considerações muito acertadas, do ponto de vista da fé, sobre a prática do amor ao próximo, embora não empregue a expressão “pequenas virtudes”:

“Jesus vem ao nosso encontro na vida diária, nas grandes e pequenas coisas, no ordinário e no extraordinário, na visita inesperada, no encontro não planejado, no que chamamos de acaso.
Jesus vem ao nosso encontro quando alguém passa por uma
aflição, quando se sente só;
quando alguém necessita de quem o escute…;
quando alguém sofre ou tem uma grande alegria;
quando passa por um mau dia e precisa de perdão;
quando alguém precisa não ser rejeitado;
quando alguém necessita contar-me algo que não me interessa;
quando alguém precisa libertar-se do que vivenciou…”

Na nossa era da técnica, na qual as pessoas são muitas vezes consideradas como número ou peça de uma máquina, é continuamente exigida a prática de virtudes sociais, de “virtudes de empresa” – como autodomínio, amabilidade, discrição, camaradagem, confiabilidade, etc. Grande valor atribui-se à pontualidade cronometrada, assim como à precisão até à fração de milímetros ou miligramas. De um único erro podem depender vidas humanas. Essas “virtudes” são exigidas de todos, independentemente de sua religião ou cosmovisão.

O Pe. Kentenich também valorizava esse tipo de virtudes e outras semelhantes. Enfatizava que elas fazem parte de toda pessoa humana nobre. Porém ainda acrescentava outras e as elevava ao nível sobrenatural. Eis alguns exemplos:

– Descobrir o que está certo na opinião do outro.
– Com uma “sagrada arte de simular”, fazer de conta que não percebemos as faltas ou deslizes dos outros.
– Sofrer e alegrar-nos com os outros. O primeiro minimiza o sofrimento; o segundo aumenta a alegria.
– Reconhecer sinceramente os erros cometidos.
– Ser obsequioso para com pessoas que nos são antipáticas.
– Ir ao encontro dos desejos dos outros antes que eles os manifestem.
– Praticar a cortesia e a nobreza no trato com os outros.

Pe. Kentenich, antes de sugerir, vivia essas pequenas virtudes. Um prisioneiro de Dachau testemunha, neste sentido, sobre o tempo em que pertenceu ao “comando colchões de palha” com o Pe. Kentenich, no campo de concentração: “Quando alguém precisava de uma tesoura, era ele o primeiro a percebê-lo e a oferecia. Quando caía uma agulha no chão, era novamente ele – embora o mais idoso – que se baixava para juntar”.

Nos artigos de seu processo de canonização, lemos: “Sua postura exterior, quando andava, estava de pé ou estava sentado, nunca era negligente ou menos bela, mas sempre disciplinada, nobre e cortês. Mesmo nos momentos de grande cansaço e sobrecarga de trabalho, nunca se entregava, mantinha sempre o autodomínio… Segundo o seu próprio testemunho, não teria conseguido suportar sem problemas as durezas do campo de concentração se não se tivesse antes imposto a disciplina de um estilo de vida austero”.

Em Dachau, Padre Kentenich ofereceu muitas vezes todo o seu “almoço” – uma sopinha de água com duas ou três batatinhas – ao seu companheiro, Pe. Albert Eise. Nem mesmo o “Kapo” comunista (um dos prisioneiros alistado para supervisionar os demais) podia ficar indiferente a esses gestos de amor ao próximo. Os que conviviam mais de perto com o Pe. Kentenich estavam seriamente preocupados com o seu estado de saúde, porque seu peso baixara para menos de 50 kg. Mas ele equiparava esses atos de heroico amor ao próximo, no máximo, às pequenas virtudes.

Toda e qualquer aflição humana fazia pulsar calidamente seu coração, não somente as de seus coirmãos sacerdotes. Numa de suas viagens mundiais, que fez para consolidar os inícios do Movimento de Schoenstatt em diversos países, também esteve em Montevidéu, no Uruguai. Visitou um colégio de Jesuítas e conversou com o superior da casa. Mais tarde, a intérprete relatou: Quando o reitor soube que o Pe. Kentenich estivera prisioneiro em Dachau, mandou chamar um jovem confrade que também estivera em Dachau. Este entrou na sala, parou, surpreendido e, ao reconhecer o Pe. Kentenich, correu para ele, abraçou-o e disse, profundamente emocionado: “Pai, meu querido Pai! Tu salvaste minha vida!”

 

Fonte: Pe. Kentenich como nós o conhecemos, Ir. M. Annette Nailis

fonte: schoenstatt.org.br