Catequese do Papa Francisco sobre a paixão por evangelizar e o zelo apostólico

Ainda se recuperando de uma infecção pulmonar, o Papa Francisco participou da Audiência Geral desta quarta-feira (29), onde continuou com a sua catequese sobre a paixão pela evangelização e o zelo apostólico. O texto foi lido pelo monsenhor Filippo Ciampanelli, colaborador da Secretaria de Estado.

“Quase sempre ouvimos coisas ruins sobre o hoje. (…) Entre guerras, alterações climáticas, injustiças planetárias e migrações, crise da família e da esperança, não faltam motivos de preocupação. De uma forma geral, o hoje parece habitado por uma cultura que coloca o indivíduo acima de tudo e a tecnologia no centro de tudo, com a sua capacidade de resolver muitos problemas e o seu progresso gigantesco em muitos campos.

A cultura do progresso técnico-individual leva à afirmação de uma liberdade que não quer impor limites e parece indiferente para com aqueles que ficam para trás. Ainda hoje a coesão, mais do que a fraternidade e a paz, baseia-se muitas vezes na ambição, nos nacionalismos, na homologação, em estruturas técnico-económicas que inculcam a crença de que Deus é insignificante e inútil: não tanto porque buscamos mais conhecimento, mas sobretudo porque buscamos mais poder. É uma tentação que permeia os grandes desafios da cultura atual.

Não ter medo do diálogo

Na Evangelii gaudium, apelei a uma evangelização que ilumine os novos modos de se relacionar com Deus, com os outros e com o ambiente, e que suscite os valores fundamentais. O zelo apostólico nunca é uma simples repetição de um estilo adquirido, mas um testemunho de que o Evangelho está vivo aqui para nós hoje.

Conscientes disto, olhemos, portanto, para a nossa época e para a nossa cultura como uma dádiva. Elas são nossas e evangelizá-las não significa julgá-las de longe, nem ficar numa varanda gritando o nome de Jesus, mas sair às ruas, ir aos lugares onde moramos, frequentar os espaços onde sofremos, trabalhamos, estudamos e refletimos, habitar as encruzilhadas onde os seres humanos partilham o que faz sentido para as suas vidas. Significa ser, como Igreja, «um fermento de diálogo, de encontro, de unidade. Afinal, as nossas próprias formulações de fé são o resultado de um diálogo e de um encontro entre diferentes culturas, comunidades e instâncias. Não devemos ter medo do diálogo: na verdade, são precisamente a comparação e a crítica que nos ajudam a evitar que a teologia se transforme em ideologia»

Precisamos permanecer nas encruzilhadas do hoje. Abandoná-las significaria empobrecer o Evangelho e reduzir a Igreja a uma seita. Frequentá-las, porém, ajuda a nós, cristãos, a compreender de forma renovada as razões da nossa esperança, para extrair e partilhar «coisas novas e velhas» do tesouro da fé.

Uma pastoral que incorpore melhor o Evangelho

Em vez de querer reconverter o mundo de hoje, precisamos de converter a pastoral para que ela incorpore melhor o Evangelho. Façamos nosso o desejo de Jesus: ajudar os nossos companheiros de viagem a não perder o desejo de Deus, para que lhe abram o coração e encontrem o único que, hoje e sempre, dá paz e alegria ao homem.”

 

Fonte: vaticannews.va