Sexta-Feira Santa
Pe. José Antonio Boareto– Na Paixão do Senhor manifesta-se para nós que Jesus continua a comunicar a Boa Nova do Reino, e revelar ao mundo o amor misericordioso do Pai. Mesmo experimentando a injusta condenação, e silenciando diante de Pilatos, e o Pai diante do Filho, o amor de Deus pela humanidade está sendo comunicada. No Filho, o Pai mostra-nos o quanto deseja salvar o ser humano.
O ser humano em Cristo é libertado de todo mal. Através da crucificação podemos contemplar que o anúncio do Reino – seu testemunho de Amor – trouxe consequências. Ao mesmo tempo, e através, da mesma crucificação que Deus vence o mal. No aparente “fracasso”, pois Deus deixa ser crucificado, revela sua força, o amor que tudo perdoa e por isso mesmo é redentor.
Na Paixão do Senhor, em sua crucificação, Jesus experimenta a força violenta dos homens, e ao mesmo tempo, vence-a pela força do perdão. Através de sua Paixão, da sua não rebeldia contra este sistema injusto e violento que o crucifica como subversivo, Ele não reage, sua atitude assemelha-se ao do Servo Sofredor que fala o profeta Isaías.
Ao olhar para o crucificado somos chamados à uma profunda tomada de consciência e reconhecer que ser cristão é procurar a cada dia renunciar a si próprios, ou seja, a toda forma de violência contra o ser humano, imagem viva de Deus. Jesus continua a ser morto em nossos dias em cada pessoa humana, imagem viva de Cristo, que é violentada de tantos modos e de tantas formas.
Quantos são os que experimentam a violência nestes tempos de guerras? Quanta dor e sofrimento em tantas formas de discriminação e preconceitos? Quantos inocentes assassinados diariamente? Não é possível ser cristão e defender a crucificação, a violência, a guerra e toda forma de maldade contra a pessoa humana, mas sim, tomar a cruz que abraçamos por amor a Cristo e que assumimos quando compreendemos que o discipulado exige de nós que sejamos anunciadores da Boa Nova da Paz, do amor misericordioso do Pai que Jesus anunciou.
Ao meditarmos a Paixão do Senhor e considerando a proposta de conversão feita pela Campanha da Fraternidade reflitamos a atitude de Jesus, que do alto da cruz disse aos seus assassinos: “Pai, perdoai-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lc 28,34), ou poderíamos dizer que Ele mais uma vez disse: “Eu não te condeno”, e assim, chama-nos a viver de uma maneira nova, onde “deixamos as pedras”, não julguemos ninguém, nem crucifiquemos os inocentes, mas sim reconciliados com Cristo que reconciliou o mundo toda com a sua Paixão, para que nos reconciliemo-nos com os irmãos e irmãs.