“Esta santificação é parte do apostolado e ajuda a inflamar o zelo pelas almas. É um vínculo forte e indestrutível que nos mantém unidos no mundo inteiro” (Rumo ao Céu, 492).
Kennedy Rocha – O Chamado à Santidade não é algo novo para o povo de Deus. Desde o Antigo Testamento o Senhor Javé já chamava o seu povo a ser santo como Ele é santo (Lv 11,44). Seja na travessia do deserto ou no exílio da Babilônia, sempre que Israel se afastava do Senhor, Ele lhe enviava um profeta, um sacerdote ou juiz para lembrar: “Sede santos como vosso Deus é santo” (Lv 19,2).
No Novo Testamento, após as Bem-aventuranças, Jesus renova este chamado: “Portanto, sede perfeitos, assim como vosso Pai celeste é perfeito” (Mt 5,48). E também Pedro, em sua Carta: “A exemplo da santidade daquele que vos chamou, sede também vós santos em todas as vossas ações, pois está escrito: Sede santos, porque eu sou santo” (1Pe 1,15-16).
Fora de moda? Não! Um convite atual
A Santidade é um chamado a todo batizado, mas, nos dias de hoje, estamos esquecendo essa nossa vocação. Hoje parece que esse chamado ficou um pouco “fora de moda”. Mas o chamado nunca foi tão urgente.
No dia 19 de março deste ano, o Papa Francisco presenteou a Igreja com sua nova Exortação Apostólica Gaudete et Exsultate – Sobre o chamado à santidade no mundo atual. Nela o Santo Padre nos convida a sermos santos hoje, cada um em sua condição de vida:
Gosto de ver a santidade no povo paciente de Deus: nos pais que criam os seus filhos com tanto amor, nos homens e mulheres que trabalham a fim de trazer o pão para casa, nos doentes, nas consagradas idosas que continuam a sorrir. Nesta constância de continuar a caminhar dia após dia, vejo a santidade da Igreja militante. Esta é muitas vezes a santidade «ao pé da porta», daqueles que vivem perto de nós e são um reflexo da presença de Deus, ou – por outras palavras – da «classe média da santidade» (7)
E também…
Para ser santo, não é necessário ser bispo, sacerdote, religiosa ou religioso. Muitas vezes somos tentados a pensar que a santidade esteja reservada apenas àqueles que têm possibilidade de se afastar das ocupações comuns, para dedicar muito tempo à oração. Não é assim. Todos somos chamados a ser santos, vivendo com amor e oferecendo o próprio testemunho nas ocupações de cada dia, onde cada um se encontra. És uma consagrada ou um consagrado? Sê santo, vivendo com alegria a tua doação. Estás casado? Sê santo, amando e cuidando do teu marido ou da tua esposa, como Cristo fez com a Igreja. És um trabalhador? Sê santo, cumprindo com honestidade e competência o teu trabalho ao serviço dos irmãos. És progenitor, avó ou avô? Sê santo, ensinando com paciência as crianças a seguirem Jesus. Estás investido em autoridade? Sê santo, lutando pelo bem comum e renunciando aos teus interesses pessoais (14).
Segundo o Papa, o caminho da Santidade passa pelas Bem-aventuranças.
A palavra «feliz» ou «bem-aventurado» torna-se sinônimo de «santo», porque expressa que a pessoa fiel a Deus e que vive a sua Palavra alcança, na doação de si mesma, a verdadeira felicidade (64).
Viver as Bem-aventuranças é nadar contra corrente,
Estas palavras de Jesus, não obstante possam até parecer poéticas, estão decididamente contracorrente ao que é habitual, àquilo que se faz na sociedade; e, embora esta mensagem de Jesus nos fascine, na realidade o mundo conduz-nos para outro estilo de vida. As bem-aventuranças não são, absolutamente, um compromisso leve ou superficial; pelo contrário, só as podemos viver se o Espírito Santo nos permear com toda a sua força e nos libertar da fraqueza do egoísmo, da preguiça, do orgulho (65).
Para alcançar a santidade é preciso LUTA, VIGILÂNCIA E DISCERNIMENTO.
Schoenstatt nos convida à santidade
O chamado à santidade no mundo atual encontra eco em Schoenstatt, pois desde sua fundação o Pe. José Kentenich já exortava seus alunos a esse modo de vida: “Cada um de nós deve atingir o grau mais elevado que se possa imaginar da perfeição e santidade de estado. Exijo esta santificação de vós” (Doc. Fundação 18/10/1914). Era uma busca de santidade no dia a dia, nas pequenas coisas, nos estudos, na obediência aos professores, nos propósitos assumidos, enfim, “viver o ordinário de forma extraordinária” (PJK).
A busca pela santidade era contagiante. No livro ‘Herói de Duas Espadas’, lemos o testemunho dos primeiros anos de Schoenstatt e, em especial, do jovem seminarista José Engling. Após selar a Aliança de Amor com a “Querida Mãezinha” foi lutar na I Guerra Mundial, oferecendo a Mãe inúmeras contribuições ao Capital de Graças, através dos trabalhos mais humildes, sendo tantas vezes humilhado pelos seus pares, exercitando a paciência e cultivando lindos ramalhetes de flores espirituais para a Mãe de Deus. Por meio da correspondência mantida com o Pe. Kentenich, vemos que ele levava a sério a Aliança selada com a Mãe, a ponto de se oferecer em sacrifício, no dia 4 de outubro de 1918, tombando vítima da explosão de uma granada. Celebramos, neste ano, o centenário de sua morte.
O Pai Fundador da Família de Schoenstatt não pedia algo absurdo ou utópico, mas sim aquilo que a Família podia oferecer, livremente, a Deus pela da Mãe Três Vezes Admirável. Ele ensinava que somos livres para acolher a vontade de Deus em nossa vida, inclusive os carinhos “em luvas de ferro” que o Bom Deus manifesta, pois ele sabia que embaixo dessas “luvas” havia o calor das mãos do Pai. Sua busca pela santidade passava pela aceitação obediente dos desígnios de Deus, mesmo que eles lhe custassem a sua liberdade física pela liberdade espiritual da Família. “O que o homem possui de mais precioso é a liberdade. Com amor sincero, ardente, ofereço esta liberdade para que Deus conceda à Família, em grau eminente, o espírito da liberdade dos filhos de Deus tão ardentemente almejado” (Segundo Marco Histórico de Schoenstatt 20/01/1942).
Lembrando sempre:
- O caminho da santidade passa pela intimidade com Deus, passa pela oração. É necessário silenciar um pouco o nosso homem interior para escutar o que Deus nos fala.
- A santidade nos faz imensamente felizes, pois vivemos aqui nesta terra a antecipação do céu, lembrando sempre que não existe santidade sem cruz.
- O Espírito Santo nos concede e renova constantemente este dom, nos permitindo ser abrasados por este fogo.
- No fim de sua Exortação Apostólica, o Papa Francisco nos indica Maria como modelo de santidade, “Conversar com Ela consola-nos, liberta-nos, santifica-nos”. Ele nos convida a conversar com ela e sussurrar, uma ou outra vez, “Ave Maria”.
“Schoenstatt vive ou morre segundo nosso sério esforço pela santidade” (Pe. José Kentenich)
Fonte: schoenstattconfins.org.br
Foto: Schoenstatt Guarapuava/PR