Pe. Nicolás Schwizer– O primeiro título que o Evangelho atribui a Maria é o de “cheia de graça”. Haver encontrado graça diante de Deus, significa haver sido “agraciado” por seus dons: por esses dons que Ele reparte por pura bondade sua. E esses dons são no fundo um só: seu amor. “Cheia de graça” é então “cheia de amor”. Creio que a todos nós faria bem renovar nosso amor mirando a um modelo atraente. E este modelo poderia ser a Santíssima Virgem.
Maria é a mulher cheia de amor. Sua vida comprova que isso é certo, porque o que mais a caracteriza é que Ela vive em plena comunhão de amor não só com Deus, senão também com os homens. Na Anunciação, esta comunhão de amor se estende a humanidade inteira: pois Maria aceita ser Mãe do Messias, o Salvador de todos os homens. Assim aparece a Virgem desde as primeiras cenas do Evangelho, ligada por laços profundos de amor a pessoas concretas: a José, a Jesus, a Isabel e Zacarias, aos noivos de Caná, aos discípulos.
O Senhor esteve sempre com Maria. Desde o instante em que ela foi concebida, a encheu com sua graça e seu amor. Por isso, Maria é também “a Imaculada”, a sem pecado. Porque o pecado é o “não” do homem ao amor, e isso jamais teve lugar em seu coração.
Pecar é dizer não aos dois mandamentos fundamentais do evangelho: ao amor a Deus e ao amor ao próximo. É negar-se a ser filhos e a ser irmãos. É romper a comunhão para cima e para os lados, isolando-se e recolhendo-se no próprio eu, em seu orgulho, em seu egoísmo, ambição ou futilidade.
A salvação de Jesus Cristo – tal como resplandece em Maria – começa pela liberação do pecado, e o retorno à comunhão no amor. O decisivo é o primeiro momento, que transcorre no interior do coração humano: a abertura ao amor, a vitória sobre o egoísmo e o orgulho. Quem se decidiu em seu coração pelo amor, por viver em comunhão com Deus e com os homens, esse já está salvo. Esse já está liberado: liberado da solidão, da angústia, da amargura e de autodestruir-se, causados a quem se fecha em si mesmo.
Mas a salvação e essa comunhão devem crescer, devem projetar-se além do puro coração. Etapa final deste processo será o céu. Ali também nosso corpo estará liberado para sempre dos efeitos do pecado: da dor, da enfermidade e da morte. Por sua atitude, Maria nos ensina que o amor incita ser solidários e a compartilhar. Ela compartilha sua vida e seus bens com José. Compartilha com Jesus sua missão. Com Isabel, seus afazeres domésticos. Com os noivos de Caná, sua preocupação. Seu amor foi convertendo-se em comunhão de vida e de bens, em comunhão de destinos e tarefas, em comunhão na alegria e na aflição. Por ser Mãe, Maria possui um carisma, um dom especial para unir os corações e abri-los ao amor, para nos fazer irmãos.
E Maria quer também nos enviar a criar um ambiente de unidade e de amor. Pede-nos para cria-lo, cultivá-lo e aperfeiçoá-lo permanentemente em nossos lares, nossos lugares de trabalho, nossos bairros e nossos grupos. E nos convida, ao mesmo tempo, a construir todos juntos uma sociedade mais solidária manifestada em ajuda real aos que sofrem, aos que dependem de nós e aos que se aproximam a nós.
Peçamos a Santíssima Virgem que nos ajude a nos liberar de todo o que ‑ no coração de cada um ‑ se opõe ao amor. Que nos dê forças para vencer em nós mesmos o pecado e o egoísmo, que nos separam dos demais e destroem a unidade. Que Maria abra nossos corações ao amor, à comunhão com Deus e com os irmãos, tal como Jesus o ensinou e viveu.
Perguntas para a reflexão
- Como é minha relação com a Virgem Maria?
- Sou uma pessoa comunitária?
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