“Uma pessoa que seguiu Maria com todo amor”
Ir. M. Nilza P. Silva / Karen Bueno – Desde que nasceu até o dia de seu casamento, Gliceria Potrich viveu em Santa Maria/RS. Ali ela passou a infância e a juventude junto com os parentes e amigos, num ambiente familiar. Uma família “comum”, com pessoas “comuns”. Mas há um detalhe que não passa despercebido: fazia parte de sua família o Servo de Deus João Luiz Pozzobon.
Atualmente Glicéria é coordenadora da Campanha da Mãe Peregrina de Schoenstatt em Dourados/MS. Ela segue as pegadas do tio, que iniciou esse grande trabalho internacional dentro da Obra de Schoenstatt. Na memória e na alma ela guarda as preciosidades dos encontros com o “Tio Pozzobon”, cujo processo de beatificação é estudado no Vaticano.
A seguir ela conta mais histórias sobre sua infância:
Qual seu parentesco com o Sr. Pozzobon?
Sou sobrinha da tia Vitória, esposa do Sr. Pozzobon. A tia Vitória era irmã de meu pai.
A Senhora conheceu João Pozzobon?
Muito, na minha infância, até um pouco antes de eu me casar. Inclusive foram as filhas do Sr. Pozzobon, a Vilma e a Eli, que fizeram meu vestido de casamento, o buquezinho do cabelo, de flores, foram elas que fizeram.
Como sobrinha, quem é João Pozzobon para a Senhora?
É um santo, um pai querido que foi para as meninas, para os filhos dele, não é? E, lógico, um esposo exemplar, que não se vê mais por aí.
Para mim, falar da pessoa de João Luiz Pozzobon é falar com saudade. Nos dias de hoje, em que estou engajada nessa missão com a Mãe e Rainha, fico pensando quão maravilhoso seria se pudéssemos tê-lo presente, mesmo que por um instante, que festa nós faríamos. Uma coisa posso imaginar: o silêncio a sua volta seria total, pois ele tinha esse dom, já que falava bem baixinho! Essa semana, em pensamento, tentei recordar como era o som da sua voz… É gratificante, prazeroso e saudoso recordar das vezes que estive presente em suas peregrinações com a Mãe, de como ele chegava queimado do sol e das vezes que chegava molhado da chuva, na casa de meus pais. Mas, para ele, estava sempre tudo perfeito porque a Mãe estava protegida com a sua “capa de chuva”.
Como criança, quais são as suas lembranças de Pozzobon que te marcaram?
Sempre o amor dele por Nossa Senhora, o jeitinho dele tratar Nossa Senhora. Ele parecia uma criança para conversar com a Mãe. Realmente, ele se colocava como uma criança perto dela.
Às vezes nós temos parentes que são próximos pelo vínculo de sangue, mas, pelo contato, eles são distantes. Como era seu contato e o contato da sua família com Pozzobon?
Meu contato, posso dizer, era direto. O tio Pozzobon saía e fazia algo… por exemplo, quando ele escreveu o “Zoológico Espiritual”. Quando ele terminou o texto, ligou para minha mãe – ele era muito amigo de minha mãe, Alzira Felipeta, cunhada dele – ele a chamou e disse: “Venham aqui que eu terminei o meu ‘Zoológico Espiritual’”, isso eu lembro. E nós fomos até lá, à noite, e a gente o ouviu lendo. Eu era uma “menina moça” e para mim aquilo era lindo. Eu pensava assim: “Ai, eu gostaria de fazer alguma coisa”. Sabe? Aquilo me cativava, me tocava, eu sempre achei bonito. Aí eu casei e foi a última vez que eu me lembro do nosso contato, em 1979. Casei e fui morar no Mato Grosso do Sul, em Dourados. Depois, uma vez ao ano eu ia para Santa Maria/RS, mas não conseguia ver o tio Pozzobon, porque ele estava sempre viajando, estava num lugar ou outro, peregrinando. Até a morte dele, foi assim.
Como era o contato dele de tio com os sobrinhos, ele rezava com vocês, brincava, ou ia mais pelo contato com o pai?
Meu tio sempre tinha uma gracinha, uma brincadeirinha ingênua, ele gostava de brincar com um e com outro, com palavras, botava a mão na cabeça… Quando eu era pequena, adorava quando ele chegava na minha escola, que era perto de onde morávamos, do outro lado da cidade – Santa Maria é enorme, ele andava, hein! – Quando entrava na minha sala, eu pensava: (…) “Ai, é meu tio, que lindo!” Ele pedia para todas as crianças rezarem com ele e eu gostava tanto… “Podem vir aqui, ponham a mão na Mãezinha, fechem os olhinhos, pensem no que vocês querem pedir para ela e depois tu reza uma Ave Maria para ela!”, ele dizia.
Como era a reação das crianças na sala de aula?
Ah, eles ficavam todos quietinhos, rezavam, iam lá e admiravam, ficavam olhando, botando a mão nele, na roupa, naquela “sacolona” que ele levava, a bolsa de viagem dele. Todos paravam para rezar, porque era uma escola católica.
Atualmente, como coordenadora da Mãe Peregrina, você tem a responsabilidade por muitos missionários. Como continuadora da missão de seu tio, quem é Pozzobon para você hoje e qual é o maior desafio?
É um exemplo de pessoa, de santo mesmo, uma pessoa que seguiu Maria com todo amor. Ele passou isso pra gente – e realmente seguir Maria é a coisa melhor que tem para os dias de hoje. Ele, para mim, é um exemplo a ser seguido. O maior desafio é fazer com que os missionários sintam esse amor, tenham esse amor.
Glicéria, muita gente pode se perguntar: Como é que ser sobrinha de um santo? Seu tio não é beatificado, nem canonizado ainda, mas, nós sabemos que ele vai ser. Então, como é ser sobrinha de um santo?
Pois, olha, não sei responder. Essa pergunta eu fiz para as filhas dele quando estive em Santa Maria. A gente sabe que ele foi uma pessoa especial e agora, lá no céu, a gente sabe que ele pode ser ainda mais especial, intercedendo por nós, do ladinho da Mãe. É esse o pensamento que eu tenho. Sempre o coloco em minhas orações. Eu peço: tio intercede! Quando um da minha família vai sair em viagem, ou amigos que a gente sabe que vão viajar, faço uma novena e coloco
A gente sabe que Pozzobon foi muito dedicado aos filhos e à esposa; ele também viajava e saía muito, era um missionário de todo dia; além disso, ele trabalhava, até que os filhos assumiram seu trabalho. Com todas essas tarefas, como era o contato dele com os irmãos?
Ele gostava de reunir os irmãos quando chegava das viagens. Ele ligava para eles contando as maravilhas que a Mãe fazia por ele, porque tudo ele entregava para Ela: “Eu vou a tal lugar, mas não tenho dinheiro, a Senhora quer que eu vá? Faça por mim”. E acontecia… Ele foi à Roma, foi a tantos lugares. Ele não tinha condições financeiras, mas a Mãe fazia tudo por ele. Sempre tinha todo o jeitinho, o carinho da Mãe e assim as coisas aconteciam por ele.
Sr. João Pozzobon, teve muita dificuldade no trabalho, acho que você conhece melhor agora do que antes, até preso ele foi. Ele compartilhava isso com a família?
Ele falava para os filhos sim, mas às vezes omitia certas coisas para não preocupá-los. Ele também falava com minha mãe, para as outras pessoas da família, parece que não. Sempre que chegava de uma peregrinação ele ligava para minha mãe e falava: “Vem fazer um ‘serão’”, e a gente ia. Eu, como era moça, não ficava muito perto, ficava mais com as meninas, mas, agora lendo os livros sobre ele, aí eu lembro: é nessa época que ele fez isso, que ele escreveu tal coisa…
Vivemos o ‘Ano João Pozzobon’ em todo o Brasil. O que a senhora espera deste período especial?
Este ano será muito proveitoso para que todas as pessoas tirem suas dúvidas e entendam bem sobre o Fundador da Obra de Schoenstatt, o Pe. José Kentenich, e o iniciador da Campanha Mãe Peregrina, João Pozzobon. Em todas as partes do Brasil a Campanha da Mãe Peregrina vem divulgando com mais ênfase a honrosa missão do Peregrino João Luiz Pozzobon, pois já se aproximam os 70 anos desde seu início. Em nossa Diocese já vivemos esse momento com muito amor, carinho, alegria e muita fé… Deus conceda a João Pozzobon honra dos altares, para que tenhamos mais um santo olhando por nós, missionários da querida Mãe Peregrina.