Pe. Nicolás Schwizer- Há duas grandes dimensões na vida de Jesus. A dimensão horizontal: ajudar o outro em sua miséria. E a dimensão vertical: estar unido ao Pai, por meio da oração.

Todos sabemos que o Evangelho está repleto de provas de amor de Jesus pelos seus irmãos, os homens e mulheres; Ele sempre tem tempo para todos, acolhe a todos com o coração aberto. Nunca nega sua ajuda aos que têm confiança n’Ele. Seus prediletos são os enfermos, os necessitados, os marginalizados. Realmente, Cristo acolhe todas as pessoas com seu amor, seus benefícios, seus milagres.

Porém, muitos não buscam pelo Messias; buscam pelo milagreiro; buscam para seu proveito pessoal; esperam d’Ele a satisfação imediata de suas necessidades; por isso, muitos ficam apenas na admiração a Ele e não passam ao seguimento.

Entretanto, muitas vezes, também não é essa nossa própria atitude diante de Deus? Não procuramos experimentar o poder de Deus, principalmente em proveito de nossos interesses pessoais? Quando se trata de seguir ao Senhor, frequentemente não buscamos escapatórias para evitar suas exigências desagradáveis?

No Evangelho, quando Jesus vê que não o entendem, Ele se retira e vai para outro lugar. “Vamos a outra parte, às aldeias próximas, para pregar também ali; porque foi por isso que eu vim”, porque a Boa Nova que Ele anuncia é muito mais profunda que a cura de corpos e expulsão de demônios. Ele vai salvar as almas, salvá-las do poder do pecado, do egoísmo e de todos os vícios.

Cristo realiza a salvação da pessoa em íntima união e vinculação a Deus Pai – é a segunda dimensão de sua vida – a dimensão vertical.

“Levantou-se de madrugada, foi para o descampado e ali se pôs a rezar” – e rezar para Ele significa comunicar-se com o Pai. Muitas vezes, no Evangelho, encontramos esse fato de que Jesus se retira para orar. Não é uma fuga, mas sim um reencontro com o Pai em sua missão verdadeira.

Se nosso seguimento a Cristo é autêntico, tem que se dar nessas mesmas duas dimensões: o compromisso com os irmãos e irmãs e a união com Deus.

Um padre da Igreja diz que a vida do autêntico cristão se representa na cruz. A trave horizontal simboliza o amor pelo outro; a trave vertical simboliza o amor a Deus.

Então, em que consiste a novidade de Jesus? O novo é que Cristo uniu inseparavelmente esses dois mandamentos: o amor verdadeiro a Deus é um amor verdadeiro ao outro. E todo amor autêntico ao outro é um amor autêntico a Deus.

A oração, o culto, o serviço a Deus não têm nenhum valor se não expressarem e alimentarem uma caridade autêntica, ou seja, um serviço prático e direto ao outro. O sinal pelo qual se reconhecerá que somos discípulos de Cristo é o nosso amor pelos irmãos e irmãs.

Hoje em dia, acentua-se muito nossa responsabilidade para com os seres humanos, nossos irmãos e irmãs; descobre-se mais e mais que o caminho rumo a Deus passa pelo próximo; porém, não caiamos agora no extremo de buscar a Deus apenas na fraternidade com todos.

Quanto mais quisermos nos comunicar com o outro, tanto mais devemos estar em comunicação com Deus; e quanto mais quisermos estar próximos de Deus, tanto mais devemos estar perto do outro. Na Eucaristia, essas duas linhas de nossa vida se cruzam. Unidos como comunidade de irmãos e irmãs nos encontramos com Deus.