Padre Nicolás Schwizer– Às vezes, nos vem a vontade de termos nascido nos tempos de Jesus. Gostaríamos de vê-lo com nossos próprios olhos, escutar sua voz, tocá-lo com nossas mãos. Em tais momentos, entretanto, nos esquecemos que Jesus continua presente entre nós, porque sua Encarnação continua nos sacramentos.

Os sacramentos são o corpo, a carne, a voz de Jesus, perpetuados para nós. Assim Ele se torna mais próximo, é mais acessível, é realmente mais presente. Nós o podemos tocar, ver e escutar durante toda nossa vida, agora mesmo e sempre que quisermos. Ele se entrega a nós, dá-se a si mesmo, se coloca em nossas mãos.

A cada Eucaristia, podemos ouvir: “Este é o meu Corpo”, “este é o cálice do meu sangue”, podemos vê-lo e até comê-lo.

Quando nos sentimos sozinhos, encerrados em nós mesmos, tristes, pessimistas – então, basta ir até Ele, saciar-nos com Ele, e nossa alma conhecerá de novo a graça, a alegria, a paciência, o amor.

Quando nos falta a fé, alimentemo-nos com a fé nele e, surpreendentemente, perceberemos como surge dentro de nós uma nova fé que não vem de nós mesmos.

Quando perdemos a esperança, comamos, recebamos a esperança que vem dele e sentiremos como se desperta em nós uma esperança renovada.

Quando não temos nem amor, nem caridade, aproximemo-nos de sua mesa, para que Ele transforme nosso coração e nossa entrega, porque Ele nos dá a si mesmo como alimento celestial.

“Aquele que come minha carne e bebe meu sangue permanece em mim e eu, nele”. Quando comemos esse corpo sobrenatural já não somos os mesmos; outro ser começa a viver em nosso lugar. O próprio Jesus nos abre a Deus, a nós mesmos, aos outros.

Em seu Coração, podemos encontrar-nos com cada homem: com nossos pais, com os filhos, com o cônjuge, com todos aqueles que amamos, inclusive com os mortos. Nós podemos encontrar todos eles na missa, em uma boa comunhão. A graça, como um rio, circulará de nós até eles e deles até nós. Assim se desenvolve e se aprofunda a vinculação e a unidade entre todos nós, que formamos a Família de Deus. Como o pão sobre o altar é formado de muitos grãos de trigo, e o vinho, de muitos cachos de uva, assim também nós, na comunhão, nos convertemos em um só corpo, no corpo de Cristo, no corpo dos filhos de Deus.

Por isso, como é triste que muitos não aceitem esse convite divino, que a maior parte dos cristãos se nega a ir à casa de seu Pai. É lamentável também que muitos – depois do convite – se neguem a comer à mesa, porque não têm fome, não têm nenhum apetite, não se sentem capazes de engolir nem um pedaço. Tem que ser Deus, tem que ser o Pai para poder aguentar e sofrer tudo isso com paciência.

A cada Eucaristia, todos os primeiros cristãos comungavam, porque não lhes passava pela cabeça que se poderia participar da missa sem nela comungar.

Os apóstolos, na primeira missa, a Última Ceia, quando Jesus lhes ofereceu sua própria carne e seu próprio sangue, comungaram todos juntos. Penso que, depois dessa primeira comunhão, sentiram-se imensamente felizes, tão plenos de alegria e amor fraternal como nunca haviam experimentado antes. Então, perceberam que só Deus podia ter feito isso, de que só Deus podia amá-los e torná-los plenos, dessa maneira.

E nós, quando nos sentiremos, depois de participar da Eucaristia, tão felizes, tão renovados, tão fraternos e tão generosos – como eles? Quando nos daremos conta de que – como naquela primeira vez – Deus se fez presente no meio de nós, entregando-nos a si mesmo, em seu próprio corpo e sangue?

Que a próxima festa do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo seja, realmente, um passo decisivo rumo ao Senhor, escondido sob as espécies do pão e do vinho!

Tradução: Maria Rita Vianna