Profundidade espiritual entre pais e filhos
Daniel e Miriam Maria Bueno – Como fazer para vivermos a Quaresma e a Semana Santa com três crianças pequenas? Como participar de missas tão longas em família, quando as crianças querem andar de um lado para o outro? Como viver um tempo de silêncio, de sacrifícios e aspirações mais profundas, numa casa cheia de brinquedos e barulho?
Para nós, quando nossas filhas eram pequenas, essas eram perguntas constantes, especialmente no ano em que a Elisa e a Lorena (nossas filhas mais velhas) tinham 4 anos e a Alice (caçula) tinha 2. Aquilo que parecia muito difícil transformou-se em Graças e momentos inesquecíveis para a nossa família! Mas, para viver bem esse tempo em família, foi preciso que nós, como pai e mãe, colocássemos uma verdade em nosso coração:
Nós somos os principais responsáveis por nossos filhos
Essa frase parece óbvia, mas nem sempre é clara em nosso interior. Certa vez lemos uma frase de nosso Fundador que nos chamou muito a atenção:
“As famílias transferiram sua responsabilidade com a educação dos filhos, em grande parte, para a Igreja e para a escola. Esta tarefa, mais urgentemente que qualquer outra, deve ser retomada pela própria família” (Pe. José Kentenich – Conferência de Dachau, 1967)
A educação de nossos filhos é nossa tarefa! Estamos acostumados a pensar e nos preocuparmos com nossas vivências pessoais – o que vamos receber de formação nessa Quaresma? Qual será nosso crescimento espiritual? – e a delegar a responsabilidade de nossos filhos às outras instituições.
A partir desse pensamento do Pai, de que a educação dos filhos é uma tarefa que deve ser retomada pela família, começamos a viver este tempo de Quaresma de forma mais ativa, como protagonistas da educação de nossos filhos. O foco não estava mais em nossas vivências pessoais de Quaresma, mas em como fazer essas vivências e celebrações chegarem aos corações de nossas filhas.
O que descobrimos?
Os frutos dessa decisão foi que tivemos Quaresmas e Semanas Santas muito profundas, não só para as nossas filhas, mas principalmente para nós. Nessa fase da vida não tivemos tempo para fazer longos retiros de silêncio, nem para fazer Vias Sacras muito extensas, ou passar a madrugada em adoração (como era possível na juventude). Mas pudemos encontrar Jesus no olhar de nossas filhas em inúmeras vivências em família. Assim, vamos partilhar algumas atividades, ou algumas vivências, que tivemos nesse tempo, talvez seja mais fácil de entender o que tentamos explicar.
Quaresma, um caminho com Jesus
Uma forma de fazer o caminho do tempo quaresmal, para nós, foi ir representando o caminho de Jesus e o nosso.
Em uma experiência, fizemos um cartaz com um caminho de aproximadamente 40 pedrinhas. A cada dia da Quaresma pintávamos uma pedrinha e, conforme íamos avançando nesse caminho, incluíamos os acontecimentos. Desenhamos nossa casa, nosso carro (que havíamos conquistado naquele ano), desenhamos Jesus num burrinho no Domingo de Ramos, os pães da Santa Ceia, as Três Cruzes e, no fim do caminho, Jesus Ressuscitado.
Em outro ano fizemos este caminho com os brinquedos das meninas, como se fosse um presépio, porém com alguns personagens deste tempo. A cada celebração da semana santa elas mudavam a cena.
Vivenciar as celebrações da Semana Santa de perto
Isso pode parecer um pouco estranho, pois estamos acostumados muitas vezes a ver os pequenos no fundo da Igreja nas Missas. Porém, as crianças pequenas têm muita curiosidade, precisam ver e tocar (o que for possível) para aprender e vivenciar as coisas. As celebrações da Semana Santa são muito especiais, cheias de significado, que não podem ser desperdiçadas neste tempo da infância de nossos filhos. Sempre que possível, tentamos nos sentar mais à frente na Igreja, mais próximo do altar, para que as meninas possam ver o que está acontecendo. E, durante a celebração, vamos explicando baixinho os significados, o que o padre está fazendo, em que parte estamos e como elas podem participar.
Por exemplo: “Agora é hora de pedir perdão; você pode pensar se fez algo de errado e pedir perdão ao Papai do Céu”. “Agora é hora do ofertório, o que você gostaria de presentear a Jesus?”. “Agora é hora da comunhão, enquanto o papai e a mamãe vão comungar, você pode fazer sua oração a Jesus”. Um costume que temos, desde que são muito pequenas, é de beijá-las após comungarmos, e dizemos: “Jesus mandou um beijo para você”. É nossa forma de fazê-las sentir e participar desse momento enquanto elas não o podem fazê-lo.
Lava-pés
Desde que são muito pequenas, após a celebração da Quinta-feira Santa, da Instituição da Eucaristia, fazemos uma pequena vivência em nossa casa. Fazemos uma pequena ceia de pão e suco de uva e depois o pai lava os pés de cada uma. É sempre um momento de muita emoção, de carinho, que as meninas ficam ansiosas esperando desde a Quarta-feira de Cinzas.
Sexta-feira Santa
É um desafio grande manter o silêncio nesse dia com crianças pequenas, porém, a dificuldade é sempre maior para os adultos do que para elas. Por exemplo, podemos combinar que neste dia não ligaremos a tv, o som, ou eletrônicos. Se fizermos nossas práticas de oração com a participação dos pequenos, com certeza essa tarefa será mais fácil para todos.
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Outras dicas:
– Procure ir, em família, num horário de adoração reservado para as crianças na paróquia ou comunidade, por exemplo, o horário da catequese, das Apóstolas, dos Pioneiros…
– Faça a oração da Via Sacra em família, para que possa ser adequada à sua realidade.
– Coloque as imagens da Via Sacra na altura da criança, para que ela possa observar de perto.
– Aproveite a oportunidade para a apreciação de imagens clássicas, onde se pode observar os detalhes da obra de arte. Algumas Igrejas têm vias sacras em alto relevo, se for possível, deixe que as crianças as toquem e sintam sua textura.
– O importante é saber que nossos filhos vão vivenciar cada parte da celebração a partir de como nos observam, de como percebem que participamos com profundidade e coração aberto. E de que, enquanto são muito pequenos, é importante que estejam conosco e experimentem nosso amor por meio da paciência e, muitas vezes, de nossas renúncias.
Outra dica é nunca deixar os pequenos no limite, no limite do cansaço, da fome, do sono. As crianças quando dormem bem, estão alimentadas e confortáveis tendem a se comportar melhor. Na prática, isso quer dizer que quando temos filhos pequenos podemos nos dedicar menos às atividades da paróquia e de muitas reuniões. Sabemos que manter as crianças bem exige trabalho, esforço e tempo dos pais.
O mais importante é que nossos filhos sintam o que estamos vivenciando, o tempo que estamos vivendo e que estamos dispostos a estar com eles. Sim, trabalhar para que eles sintam nosso amor por eles, nosso amor por Cristo e pela Igreja, que sintam a verdade escondida em nossos corações.
Como tudo na vida, a educação dos nossos filhos, possui riqueza, mas também conflitos, dificuldades e tensões. Por isso, rezemos nesta Quaresma e busquemos novas luzes e caminhos para guiar nossa família e nossas crianças para que sintam, no sentido mais vivencial da palavra, o Amor que Deus tem por eles neste tempo de Graças e momentos especiais.