Confira a dinâmica que trata o tema da sinodalidade na Igreja

Aproxima-se a segunda sessão do Sínodo dos bispos que trata o tema “Por uma Igreja sinodal: participação, comunhão, missão”, num longo processo de escuta iniciado em 2021. A sua organização foi apresentada no dia 16 de setembro.

A XVI Assembleia Sinodal decorrerá de 2 a 27 de outubro, mas os dias anteriores vão ser lugar de retiro. Grande atenção para a celebração penitencial de dia 1 de outubro na qual vão ser escutados testemunhos de pessoas que sofreram o pecado dos abusos, da guerra e da indiferença.

Destaque no programa para algumas atividades especiais:

– Dia 11 de outubro, na data dos 62 anos da abertura do Concílio Vaticano II, será organizada pela Comunidade de Taizé, uma vigília ecuménica;

– Nos dias 9 e 16 de outubro haverá fóruns teológico-pastorais sobre temas como o papel da autoridade do bispo numa Igreja sinodal e a relação entre Igreja-local e Igreja-universal;

– Dia 21 de outubro será de novo tempo para retiro espiritual implorando ao Senhor os seus dons para a elaboração do documento final do Sínodo.

Escuta e diálogo

O Instrumentum Laboris (Instrumento de Trabalho) tem como título “Como ser Igreja sinodal missionária e para esta segunda sessão do Sínodo reflete três anos de discernimento nas comunidades eclesiais globais. O documento aborda temas essenciais como “Relações”, “Percursos” e “Lugares“, enfatizando a necessidade de conversão relacional, a formação conjunta e a valorização de diferentes culturas e contextos na missão da Igreja.

O processo não termina em 2024

“As duas Sessões não podem ser separadas e muito menos opostas: decorrem em continuidade e sobretudo fazem parte de um processo mais amplo que, de acordo com as indicações da Constituição Apostólica Episcopalis communio, não terminará no final de outubro de 2024”, recorda a introdução do IL assinalando o “caminho de conversão e de reforma que a Segunda Sessão convidará toda a Igreja a realizar”.

“Estamos ainda a aprender como ser Igreja sinodal missionária, mas é uma missão que experienciámos poder empreender com alegria”, diz o texto.

O documento destaca especialmente a importância da metodologia sinodal da Conversação no Espírito, no caminho percorrido até o momento.

Continuar a reflexão sobre o diaconado feminino

Ainda que o tema do diaconato feminino não seja abordado nesta sessão, a reflexão sobre a participação das mulheres na vida da Igreja continuará em grupos de estudo até 2025. O documento também sugere a superação de estruturas de autoridade piramidais, incentivando um estilo sinodal que promova a corresponsabilidade entre todos os membros da Igreja.

Por uma conversão das “relações”

A Parte I do IL dedica-se às “Relações” que “ao longo de todo o processo sinodal e em todas as latitudes emergiu a exigência de uma Igreja não burocrática, mas capaz de nutrir as relações”. A sinodalidade é descrita como “não um expediente organizativo, mas vivida e cultivada como o conjunto das formas segundo as quais os discípulos de Jesus tecem relações solidárias, capazes de corresponder ao amor divino”.

A missão sinodal envolve “uma conversão relacional, que reoriente as prioridades e as ações de cada um”, especialmente para aqueles responsáveis por promover a unidade. O texto também sugere uma “compreensão renovada do Ministério ordenado no horizonte da Igreja sinodal missionária”, defendendo uma mudança de “um modo piramidal de exercitar a autoridade para um modo sinodal”.

O documento destaca ainda que “uma distribuição mais articulada das responsabilidades poderá indubitavelmente favorecer também processos decisórios caracterizados por um estilo mais claramente sinodal”.

“No âmbito da promoção dos carismas e ministérios batismais, é possível implementar uma reativação das funções cuja execução não exige o sacramento da Ordem. Uma distribuição mais articulada das responsabilidades poderá indubitavelmente favorecer também processos decisórios caracterizados por um estilo mais claramente sinodal”, refere o texto.

“Percursos” de formação, discernimento e decisão

A Parte II do documento destaca a importância da formação e do discernimento no contexto sinodal. Um trecho relevante afirma: “Não pode ser uma formação exclusivamente teórica”, enfatizando a necessidade de uma prática comum que envolva todos os membros da Igreja, incluindo “homens e mulheres, Leigos, Consagrados, Ministros ordenados e Candidatos ao Ministério ordenado”, para aumentar o conhecimento mútuo e a capacidade de colaboração.

O texto também ressalta a importância de ouvir a Palavra de Deus no discernimento: “O ponto de partida e o critério de referência de todo o discernimento eclesial é a escuta da Palavra de Deus”, o que requer “liberdade interior, abertura à novidade e abandono confiante à vontade de Deus”. Além disso, o documento salienta que “um processo de discernimento articula concretamente comunhão, missão e participação” e que toda a comunidade é chamada a “rezar, escutar, analisar, dialogar, discernir e aconselhar na tomada de decisões pastorais”.

Nos “lugares” superar o modelo piramidal

A Parte III do Instrumentum Laboris (IL) concentra-se nos “Lugares” e destaca a importância de superar o modelo piramidal tradicional da Igreja. Aqui estão os pontos principais:

Importância do Contexto Local: A vida sinodal da Igreja deve considerar o “lugar” específico, ou seja, o contexto e a cultura onde a Igreja atua. A noção de “lugar” inclui tanto o espaço físico quanto as relações culturais que formam a experiência comunitária de fé.

Superar o Modelo Piramidal: O documento critica a visão estática dos lugares, que os organiza em níveis hierárquicos (como Paróquia, Diocese, etc.), e propõe uma abordagem mais dinâmica e interconectada, que não se limita a um modelo piramidal.

Diversidade de Formas de Pertencimento: Reconhece a crescente variedade de formas de pertencimento à Igreja, que não se baseiam necessariamente em uma definição geográfica, mas em conexões associativas. Esta diversidade deve ser promovida com uma perspectiva missionária e discernimento adequado.

Valorização dos Conselhos: Enfatiza a importância dos conselhos paroquiais e diocesanos como essenciais para o planejamento e execução das atividades pastorais. Estes conselhos devem adotar práticas sinodais e de prestação de contas.

Perguntas Fundamentais: O IL se questiona sobre como ser uma Igreja sinodal missionária, como promover uma escuta e diálogo profundos, e como transformar estruturas e processos para uma participação mais ampla e partilha dos carismas dados pelo Espírito Santo. Essas perguntas visam curar as feridas mais profundas do nosso tempo e promover uma Igreja que serve de forma mais eficaz.

Esses pontos destacam a necessidade de uma abordagem mais inclusiva e adaptativa na estrutura e operação da Igreja, valorizando a especificidade dos contextos locais e a participação de todos os membros na vida e missão da Igreja.

 

Com informações de: vaticannews.va