Uma reflexão sobre a figura do filho heroico
Marcelo e Gislaine Mafra – Há apenas duas passagens em todo o Evangelho em que o próprio Deus se manifesta acerca de Jesus. A primeira é no batismo de Jesus, no Rio Jordão:
“Depois que Jesus foi batizado, saiu logo da água. Eis que os céus se abriram e viu descer sobre ele, em forma de pomba, o Espírito de Deus. E do céu baixou uma voz: “Eis meu Filho muito amado em quem ponho minha afeição”.” (Mt 3, 16-17)
A segunda é no monte Tabor: “Falava ele ainda, quando veio uma nuvem luminosa e os envolveu. E daquela nuvem fez-se ouvir uma voz que dizia: “Eis o meu Filho muito amado, em quem pus toda a minha afeição; ouvi-o”. (Mt 17, 5)
Em uma frase curta, mas muito precisa, primeiro Deus expressa: “este é meu filho”; depois Ele diz “muito amado, em quem eu pus toda a minha afeição”; e termina por dizer, “ouvi-o”.
É tanto o amor de Deus por seu filho Jesus, que não se contem e precisa expressar seu afeição e sua predileção por Cristo. Ele, Pai e Criador, nos concebeu pelo amor, por amor e para o amor.
Sabendo de nossas limitações e fraquezas nos envia seu próprio Filho, para que por Ele, Cristo Jesus, saibamos que Deus é nosso Pai e que consequentemente somos seus Filhos. Assim como Deus Pai ama a Cristo filho, também nos ama com o mesmo terno amor.
Deus ainda afirma: “ouvi-o”. Deus nos diz, Jesus é o caminho, é a sabedoria, é a verdade. Não só, ouvi-o, mas sede como Ele, imitai-o, refleti-o, transfigurai-o. Há tanta riqueza nesta imagem do Tabor!
O Pe. Kentenich traz consigo esta imagem predileta e revela no Documento de Fundação seu sentimento: “Se, porém, quiserdes saber o autor deste desejo, posso revelar-vos a ideia predileta que acalento em meu interior. Ao contemplar as magnificências divinas no Monte Tabor, Pedro exclamou encantado: “Aqui é bom estar! Façamos três tendas”. (Mc 9,5)
Estas palavras sempre me voltam à memória e frequentes vezes me perguntei: não seria possível que a Capelinha de nossa Congregação se torne o nosso Tabor no qual se manifestem as magnificências de Maria?…” (D.F. nº 6 e 7)
Nosso Pai Fundador, expressa que sua ideia predileta é o TABOR e é nesta ideia que ele fundamenta toda a obra que desenvolveu, partindo da definição de seu propósito mais ousado, “gerar um homem novo em uma nova ordem social” segundo a imagem de Cristo no TABOR.
Qual é então a imagem de Cristo no TABOR que nós devemos olhar?
Segundo nosso Fundador, há três elementos fundamentais dessa imagem de Cristo no Tabor, os quais podemos refletir e nos guiar para nos assemelharmos a Ele:
O filho muito amado do Pai: o Pai Eterno revela aos discípulos sua afeição e complacência sobre o Filho unigênito, seu Filho muito amado. No Tabor, Deus revela sua predileção por Cristo.
O Homem Novo, se sente amado por Deus com amor de predileção. Não apenas sente, mas sabe que é envolvido por este amor e sentimento de predileção, que encontra a força e a motivação para decidir-se pelo bem e por entregar-se a Deus, como fez o próprio Cristo.
Sem o amor de Deus reconhece sua incapacidade para praticar o bem e vencer o pecado. O Homem Novo, entende que a imagem ideal do homem, é uma imagem que se assemelha a Cristo, que busca ser reflexo de Cristo, o filho muito amado do Pai.
O Filho heroico do Pai: quanto mais amor, maior capacidade de entrega e de aceitação. O amor de predileção é o segredo e a força para o heroísmo do amor, para o martírio. Por isso não se pode separar o sofrimento da transfiguração. Nosso Fundador pergunta: “Por que Jesus se submete ao caminho de horrível sofrimento do qual ele vai ao encontro?” Sua resposta, “Por um profundo, ardente e heroico amor…” (Viver da Fé nº 12 pag.51)
O Homem Novo, busca em todas as situações fazer a vontade de Deus. Reconhece seu plano de amor em cada instante da vida. Aceita viver o que Deus lhe permite e se esforça para responder com seu sim, pleno, alegre e vitorioso.
Quem de nós não vive momentos de cruz? O que dizer da dor de pais e mães que não podem oferecer o bem que desejam a seus filhos, sobretudo quando os veem seguir a vida por caminhos tortuosos? Somente o amor heroico é capaz de aceitar os acontecimentos sem deixar-se abater ou revoltar-se contra Deus, cultivando a mais pura e verdadeira alegria, pois encontra no coração de Deus a aceitação e cura de suas dores.
O Filho transfigurado do Pai: Cristo é objeto da máxima complacência divina, como Deus e homem. Referindo-se a Cristo no Tabor, o fundador disse em 1947: “Antes de anunciar sua paixão, Jesus refulge como um sol em toda a sua beleza. Suas vestes são alvas como a neve. Sua face brilha como o sol. Ele está no brilho, nas glórias do Tabor! Esta é nossa imagem. Estes são os traços de Jesus que nós queríamos copiar… nosso coração não pode se deleitar suficientemente com esta transfiguração e que felicidade seria, se pudéssemos dizer: “nossa face reluz como o sol, e nossas vestes são alvas como a neve. Que felicidade, se pudéssemos irradiar algo dessas magnificências do Tabor!” (01.09.1947)
O Homem Novo, se assemelha a Cristo pela prática das virtudes. Ele conquista um coração sereno, uma face tranquila e sua presença traz paz aos lugares onde se encontra.
Todos nós conhecemos um homem ou uma mulher que podemos dizer: “como essa pessoa é cheia de Deus!” Vemos diariamente homens e mulheres que abraçam a fé em Cristo e buscam viver como seus reflexos aqui na terra.
Cristo e Maria buscam ardentemente corações puros que estejam dispostos a amar, como Jesus amou, a entregar-se por um ideal nobre e a viver uma vida de solidariedade e comprometimento com o Evangelho e a salvação de todos.
Está chegando do dia da celebração dos 75 anos da Proclamação do Ideal Tabor.
É preciso nos apropriarmos dessa ocasião e mergulharmos nos acontecimentos daquele 20 de abril de 1947. Nosso Pai sempre nos ensinou que tempos jubilares são tempos de graças especiais, quando a força que originou este Jubileu jorra novamente distribuindo graças em abundância. Aproveitemos esse momento, pois ele é único e muito importante para toda a Família de Schoenstatt do Brasil.
O mundo precisa urgentemente do Cristo transfigurado. A Mãe de Deus conta conosco para ajudá-la a gerar Cristo novamente ao mundo. Ela, a mulher revestida de luz, também gera em nós o Cristo Tabor. A Mãe de Deus, como Esmagadora da Serpente, também é vitoriosa em Cristo e nos conduz pelas batalhas da vida de forma vitoriosa.
Ela, a Mãe de Deus e nossa Mãe, deseja ardentemente que voltemos o nosso olhar e o nosso coração a seu filho muito amado e aprendamos a ser Homens Novos à imagem de Cristo no Tabor!
Fonte: schoenstatt.org.br