Pe. Nicolás Schwizer– Neste mês, celebramos a festa da Ascensão do Senhor. Entretanto, não acredito que este acontecimento tenha sido uma festa para os apóstolos. Ninguém se alegra de perder seu pai, sua mãe ou um amigo; e os apóstolos não ficaram felizes com o desaparecimento de Jesus. Pela Ascensão, Cristo se faz invisível; porém, mais do que nunca, está mais perto de cada um de nós: “Eis que estou convosco todos os dias, até o fim do mundo” (Mt 28,29); mas, como Cristo está conosco?

Cristo está aqui, na terra presente, nos Sacramentos, sobretudo na Eucaristia. Está presente na comunidade cristã. Está presente em nosso coração, que é templo de Cristo e de Deus Trino. A Ascensão do Senhor que celebramos este mês quer nos revelar algo mais que sua presença invisível no meio de nós, quer nos revelar como vai terminar nossa vida terrena, que é uma pergunta, creio, que inquieta a todos nós. A festa da Ascensão nos dá a resposta: nosso final será também uma ascensão.

Algum dia nos encontraremos no céu. Nossa presença na missa dominical não faz mais do que prefigurar, anunciar e preparar essa grande assembleia final em torno do Senhor. Algum dia, a vida nos dispersará; porém, será apenas algo transitório, até que chegue a hora de nossa ascensão final. Porque tudo que acontece aqui, nesta terra, é transitório.

Quantas vezes nos desanimamos diante de qualquer contrariedade, qualquer sofrimento e cruz, dizendo: não é possível que Deus exista e permita essas coisas; não é possível que Deus dirija nossa vida e a transforme dessa maneira. Sim, é verdade que as coisas nem sempre são fáceis; porém, esperemos, tenhamos paciência, não julguemos até ter visto o final, porque já sabemos, por experiência, que depois da Paixão e do Calvário vêm sempre a Ressurreição e a Ascensão.

Por isso, toda tristeza é transitória. Somos desgraçados, mas somente por um breve tempo. Por que rezei e Deus não me escutou? Porque Deus se reserva o direito de me dar muitas coisas e melhores que aquelas que eu me atrevi a pedir-lhe. Por que continuo doente, sem forças? Porque logo estarei curado para sempre. Por que tenho que lamentar a morte de uma pessoa querida? Ou por que a vida me separa das únicas pessoas com as quais eu gosto de viver? Porque logo me encontrarei reunido com elas para sempre.

Também a alegria, toda a alegria deste mundo são passageiras. Os filhos sabem que não podem ter seus pais sempre com eles. Os pais sabem também que não terão seus pequenos sob sua guarda para sempre. O mesmo acontece com a esposa em relação ao seu marido, e com o marido em relação à sua esposa; e assim com todas as pessoas que se amam. Não existe mais do que apenas um lugar definitivo no qual nos juntaremos para sempre; e esse lugar não se situa aqui embaixo, nesta terra.

O mesmo acontece com nossos bens: não podemos levá-los conosco; vamos perdê-los todos. Algum dia, nossas mãos se abrirão para entregá-los. Hoje, entretanto, é o momento de abrir as mãos para oferecê-los livremente, porque vamos perder tudo o que não oferecermos a Deus. Em todas as missas, oferecemos um pouco de pão, um pouco de vinho – representando nós mesmos, nossas vidas, nossos trabalhos, nossos bens; e, depois de recolher tudo, o sacerdote consagra, levando ao mundo de Deus.

Assim, em cada uma de nossas Missas, um pouco de nosso mundo passa a fazer parte de outro mundo. Em cada uma das Missas, acontece a ascensão de um pouco da terra ao céu. Em cada uma das Missas, como cristãos, somos convidados a nos elevarmos, a nos separarmos um pouco da terra, a dar um pouco da terra, a dar um passo rumo ao mundo de Deus.