(foto: divulgação Inpe)
Preparando-se para enviar o “Amazônia 1” ao espaço e lançar-se no coração da MTA
Karen Bueno – Daqui a 10 dias será lançado no espaço, em 28 de fevereiro, o primeiro satélite 100% brasileiro. O “Amazônia-1” foi desenvolvido pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e é um satélite de observação da terra completamente projetado, integrado, testado e operado pelo Brasil. Sua missão principal será observar e monitorar o desmatamento, especialmente na região amazônica. Após anos de trabalho e centenas de pessoas envolvidas, este satélite será lançado a partir da base de Sriharikota, na Índia.
A equipe brasileira que finaliza o projeto já está, desde dezembro, trabalhando na Índia, nas últimas operações para o lançamento. Entre eles está o Marcelo Petry, da Liga de Famílias de Schoenstatt de Atibaia/SP, que é físico e trabalha no Inpe. Marcelo atualmente se prepara para selar a Aliança de Amor com a Mãe e Rainha e é casado com a Mayra Montoya Petry. Abaixo, em entrevista direta da Índia, ele conta como o desenvolvimento desse satélite está ajudando-o, também, na preparação para a Aliança de Amor e o que podemos esperar dessa nova tecnologia a serviço do nosso país:
Qual é o seu trabalho, em que você atua exatamente?
Trabalho no INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e atuo na área de controle térmico de satélites. De uma maneira simplificada, pode-se dizer que meu trabalho é manter a temperatura de equipamentos que fazem parte de um satélite, dentro da faixa especificada de temperatura, nem muito quente e nem muito frio.
Qual seu envolvimento no projeto Amazônia 1?
Faço parte do subsistema de controle térmico, onde temos um primeiro segmento que é o de análise computacional e arquitetura do projeto térmico e um segundo segmento que é o de desenvolvimento físico e implementação da solução proposta, sendo que eu sou responsável pela equipe que trabalha com o segundo segmento. Essa equipe é responsável por desenvolver e fabricar os MLIs (um tipo de cobertor espacial) que recobrem o satélite, também aplicamos outros dispositivos de controle térmico, como fitas, tintas, aquecedores, espalhadores de calor, dentre outros.
Há quanto tempo vocês estão trabalhando nele e em que fase estão atualmente?
Trabalhamos há 6 anos e estamos nos preparando para o lançamento que deve ocorrer no dia 28 de fevereiro na base de lançamento de SHAR, em Sriharikota, na Índia.
Existe algo que você aprendeu no Movimento de Schoenstatt e que utiliza em seu trabalho? Pode nos contar?
“Nada sem vós, Nada sem nós!”
É esse ensinamento que carrego no meu dia a dia. Ela sempre me lembra que a responsabilidade de agir é minha, mas que devo orientar essa ação de acordo com princípios cristãos.
O Pe. José Kentenich comparava a conquista do espaço (quando foram enviadas as primeiras naves pelos russos e depois pelos americanos) com a Aliança de Amor: “Verdade é que, pela Aliança de Amor, somos lançados no espaço”. “Introduzimo-nos na nave espacial do coração da Mãe de Deus!”
Quando lançado ao espaço, o astronauta deixa de ter um lugar onde possa tocar, se segurar e assim fica a flutuar no espaço, por sua vez, a Aliança de Amor nos desvincula de uma vida excessivamente materialista, o que muitas vezes pode gerar a mesma sensação de falta de vínculo. No caso do astronauta, ele sana essa necessidade se vinculando ao traje espacial ou a uma espaçonave maior e, assim, sua sobrevivência é garantida; no caso do schoenstattiano, a nave é o coração da Mãe de Deus. Assim como a espaçonave, o coração da Mãe nos dá a proteção para a jornada, mas a responsabilidade da navegação é nossa.
Falamos, em Schoenstatt, que o mundo interior e o mundo exterior (microcosmo e macrocosmo) devem se desenvolver em harmonia. Os avanços tecnológicos têm que estar unidos com os avanços espirituais interiores. Há algo no desenvolvimento do Amazônia 1 que te ajuda nesse processo de crescimento interior?
Devido ao esforço necessário, o próprio processo de trabalho para se construir um satélite acaba influenciando como nos relacionamos com nosso entorno. Como as dificuldades são muitas, acaba ocorrendo diversas oportunidades para exercitar a resiliência, parcimônia e até mesmo a empatia pelo próximo. Muitas vezes é preciso perseverar muito para atingir o objetivo almejado, não podendo se valer de atalhos ou desvios durante a jornada, o que torna a jornada fatigante para todos os envolvidos. Quando isso ocorre, devemos lembrar que há um objetivo em comum e que precisamos sobrepujar as barreiras encontradas, independente da natureza das mesmas, pois se não o fizermos, acabamos por falhar…
Para que esse satélite é desenvolvido, qual sua função? Que benefícios trará ao Brasil?
O AMZ-1 é um satélite que permite o registro fotográfico da superfície do planeta, usualmente classificado como satélite de sensoriamento remoto. Ele foi desenvolvido para observar e monitorar o desmatamento da região amazônica. Para realizar essa tarefa, o AMZ-1 fotografa uma região da floresta, armazena as imagens em seu computador de bordo e, assim que ele se comunicar com uma de suas antenas receptoras que estão instaladas nas unidades do INPE, ele envia as imagens para que os pesquisadores possam processar elas digitalmente e assim gerar dados sobre o desmatamento da floresta. Mas também podem ser geradas imagens para o controle de queimadas, monitoramento de crescimento urbano, áreas agrícolas, recursos hídricos, dentre outros.
Quanto aos benefícios, podemos abordar eles de duas formas uma direta e outra transversal. Os benefícios diretos estão ligados à própria operação do AMZ-1, que é a obtenção de imagens que reforçarão a disponibilidade e frequência de informações para os pesquisadores gerarem dados que, por sua vez, podem ser utilizados por órgãos como o Ibama. Já os benefícios transversais podem ser identificados como a validação da plataforma multimissão (PMM), que, se fizermos uma analogia com uma carreta, ela seria o cavalo mecânico e o módulo de carga útil do satélite seria o semi-reboque, que é onde estão os equipamentos que realizam a missão do satélite. Outro ponto a ser observado é a geração de empregos qualificados na indústria nacional e o aumento da capacidade tecnocientífica dos institutos envolvidos, o que nos habilita a almejar realizar projetos mais complexos, que venham a atender as necessidades da sociedade.
* O satélite será lançado pela missão PSLV-C51 da ISRO, às 10h24min, no horário local da Índia (às 1h54min no Brasil). As informações atualizadas e fotos estão na página Missão Amazônia-1 do Facebook
[1] Pe. José Kentenich. Às Segundas-feiras ao Anoitecer, vol 21 – Nossa vida à luz da fé