(Foto de Paz Arando na Unsplash )
Padre Nicolás Schwizer – Jesus contava suas parábolas ao ar livre. Às vezes, quando uma multidão entusiasmada se juntava junto ao lago, Jesus subia em uma barca, distanciava-se um pouco da beira para criar um anfiteatro natural; e lhes falava do Reino e ensinava as multidões e ao mundo, abrindo os segredos do povo de Deus.
O cenário é importante para captar a mensagem. Jesus falava a multidões inocentes e simples, que tinha entendimento imediato, sob impacto direto. Ele queria comunicar uma ideia clara e direta para que aquelas pessoas, de forma imediata, pudessem entendê-lo, levando sua mensagem em seu coração para as casas e para seus campos. Jesus queria que sua palavra os ajudasse a viver melhor a vida, a renovar a esperança em uma sociedade que sempre é penosa.
Para resgatar esse primeiro sentido, temos de escutar as parábolas como se fosse a primeira vez que as escutamos, misturados entre a multidão que, perto do lago, as ouvia, esquecendo por um momento tudo o que elas haviam lido, escutado, meditado.
O que essa boa gente, que escutava pela primeira vez, entendeu? Qual lição permaneceu soando em seus ouvidos, vibrando em seu coração, gravada em sua vida? Pensemos um instante.
Para Jesus e seu pequeno grupo de discípulos, aqueles eram dias difíceis. Os fariseus tinham iniciado a oposição e proibido a entrada na sinagoga daquele homem que não a respeitava, profanando o sábado com suas curas. Jesus se viu forçado a evangelizar ao ar livre. Isso era uma ameaça para os discípulos, principalmente em relação à fé. Alguns se afastaram dele; havia uma nuvem de dúvida e de temor. Não sabiam onde tudo aquilo iria parar. Não sabiam se a incipiente Boa Nova teria êxito e seria aceita, ou se fracassaria e, como fruto final, tudo ficaria na ilusão de uns poucos dias.
Naquele momento, o mais importante para Jesus, que conhecia os temores de seus discípulos e sentia suas dúvidas, era devolver-lhes a esperança, levantar-lhes o ânimo, assegurar-lhes o triunfo definitivo. Por isso, a conhecida parábola do semeador. O que fica gravado com clareza na mente aberta de seus ouvintes é que, apesar de todas as dificuldades – os pássaros, as pedras e os espinhos – no final, a colheita foi esplêndida.
Trinta, sessenta, cinquenta por um – são números enormes nos cálculos de um lavrador. Isso é o que continua soando em seus ouvidos, quando Jesus termina; as pessoas sorriem, a esperança volta ao coração dos discípulos.
Jesus insiste: um grão de mostarda se torna árvore; um punhado de fermento faz fermentar toda a massa. Não importa a pequenez do agora. Em sua experiência de lavradores, sabem que a semente permanece oculta em um período de morte, de obscuridade, de prova. Porém, essa mesma semente, quando chega o tempo certo, rompe terras, afasta pedras, evita espinhos e cresce triunfante, com ímpeto intenso que cobre de ouro os campos e os rostos dos camponeses de alegria. A grande colheita! Acreditem em mim e esperem.
Jesus confirma na parábola a mensagem essencial que tinha comunicado em frase direta: a abundância de vida que ele veio para trazer ao mundo e que se realizará em cada caso, à sua maneira e ao seu tempo, porém sempre com a segurança infalível da palavra e da presença que em promessa ele havia feito, promessa que já se torna realidade em nossa vida.
Não se trata de triunfalismo barato, mas sim de fé sincera. Não são sonhos futuros, mas sim realidade presente. Não são resultados espetaculares, mas sim vivências pessoais. Aqui está Cristo, com sua semente, sua promessa e sua plenitude de vida, que já é nossa na fé, para sempre. Que se alegrem os campos da Galileia com a grande colheita!
Tradução: Maria Rita Vianna