Tríduo em preparação a Solenidade de Pentecostes

“Descerá sobre vós o Espírito Santo e vos dará força; e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia e Samaria e até os confins do mundo”. (At 1,8). Em preparação a Solenidade de Pentecostes, durante três dias vamos caminhar com os ensinamentos do Pe. José Kentenich sobre o Espírito Santo.

Neste primeiro dia, vamos fazer uma reflexão sobre o Espírito Santo como Dom da Vida

O Espírito Santo é aquele que desperta todos os germes bons de nossa alma tornando-os vida nova, vi­gorosa, florescente. Para nos convencermos disso, só preciso lembrar a missão da terceira Pessoa da Santís­sima Trindade e sua atuação na primeira festa de Pente­costes, que se repetiu no decorrer dos séculos em todo o lugar e continuamente ainda dia a dia se repete.

Na profissão de fé apostólica, professamos e re­zamos: “Credo in Spiritum Sanctum, Dominum et vivificantem” = Creio no Espírito Santo, que é Senhor e dá a vida. A fé católica – e nesta questão, sem dúvida ela tem a última, a única palavra, – a fé católica leva à mais íntima união do Espírito Santo com a vida. Ele faz, Ele cria a vida.

Spiritus Domini replevit orbem terrarum et hoc quod continet omnia, scientiam habet voeis”. Assim começa hoje o introito da Santa Missa, assim rezamos durante a semana de Pentecostes e também nas refei­ções, ao meio-dia e à noite: o Espírito do Senhor enche o orbe terrestre e Ele, que tudo contém, tem o conheci­mento das vozes, isto é, conhece cada movimento mais íntimo da criatura, tanto o pensamento expresso, como o mais oculto.

“Spiritus Domini replevit orbem terrarum”. Não é isso uma lembrança clara, uma manifesta repetição da palavra que encontramos logo no começo da Sagrada Escritura: “Et Spiritus Dei ferebatur super aquas” = E o Espírito de Deus pairava sobre as águas – sobre a maté­ria da qual foram feitas todas as coisas? De fato, Pente­costes está em estreita relação com a obra da criação, Pentecostes é um outro, um novo dia da criação. O Es­pírito Santo desce do céu à terra para aí realizar uma nova criação espiritual e moral. A vida espiritual e mo­ral de cada um de nós deve ser renovada. Reconhece­mos esta verdade e pedimos que ela se confirme em nós, cada vez que juntarmos as mãos e pedirmos: “Emitte Spiritum tuum et creabuntur” = Enviai o vosso Espírito e tudo será criado. Toda a face da terra deve ser nova, deve ser renovada através do Espírito Santo. “Et renovabis faciem terrae” = E renovareis a face da terra. Jesus fundou o seu Reino aqui na terra: a Igreja Católi­ca. O Espírito Santo deve manter este Reino e estendê-lo até os confins do mundo. Através dele o espírito de Cristo deve vencer o espírito do mundo, o domínio dos maus espíritos deve ceder aos direitos inalienáveis de Deus.

Esta é a missão d’Aquele que dá a vida: renova­ção religiosa e moral de cada um e de todos os homens. E que isso é tarefa do Espírito Santo, prova-o sua ação, sua atuação na festa de Pentecostes.

Humanamente falando, com seus grandes planos de salvação do mundo, Jesus fracassou. Ele, o grande conhecedor dos homens, Ele que dirige os corações dos homens como as águas de um riacho, Ele que por três longos anos foi mestre e educador – que foi o mestre de noviços de seus apóstolos. E qual foi o resultado? Não compreenderam seu mestre, não captaram seu ensina­mento. Mergulhados totalmente nas coisas terrenas, não são capazes de se elevar às alturas do pensamento de Jesus. Seu pensamento e sua ambição orientam-se para os primeiros lugares e honras, na ideia preconcebida de um reino messiânico desta terra. Neste reino cada um quer ser o primeiro, o maior. Mas quando a dura reali­dade destrói seus castelos de areia, – quando Jesus per­corre o caminho das mais acerbas dores e da morte -, deixam seu Mestre e fogem. Um dos mais corajosos entre eles, que ainda há pouco, no ardor cavalheiresco, brandira a espada em defesa de Jesus.

[…]

Estes são os homens, os escolhidos aos quais o Crucificado confia a sua causa, a sua missão. E lhes entregue uma incumbência que abrange o mundo. (…) Não é uma loucura esperar, nessas condições, um feliz êxito para a causa de Cristo? A preparação dos apósto­los ainda não é completa. O Espírito Santo deve colocar ordem no caos de seu coração, que está deserto e vazio como na obra de seis dias na criação. Ele deve conduzi- los a toda verdade e fortalecê-los para ações apostólicas corajosas. Foi o que Jesus prometeu.

Cheios de esperança, os apóstolos aguardam o cumprimento dessa promessa. E realmente! Vem Aquele que era esperado. Uma ventania e línguas de fogo o precedem. Desce sobre cada um deles e acontece o milagre da transformação. Agora os doze já não mais se amedrontam […]. Captam cla­ramente toda a grandeza de sua vocação sobrenatural. “Repleti sunt omnes Spiritu Sancto”: todos ficaram re­pletos do Espírito Santo. “Et coeperunt loqui”: e come­çaram a falar. Todas as palavras que Jesus lhes falara, mas que há muito tempo jaziam mortas e infecundas no terreno de suas almas, encontram agora uma alegre ressonância em seu interior. Agora reconhecem toda a grandeza de sua vocação sobrenatural. “Et coeperunt loqui!” Agora já não mais se amedrontam diante do sor­riso zombeteiro e irônico […] Corajosos enfrentam o mundo inteiro cheios de ardor, prontos a derramar seu sangue, a sacrificar sua vida por Cristo e seu Reino. Deles dimana uma força à qual dificilmente se pode resistir. Assim, sua marcha de guerra torna-se marcha de vitória, que se repete em todos os séculos do cristianismo, na medida que o Espírito Santo encontra corações humanos cheios de ardor nos quais possa se estabelecer. São Felipe Neri queria, com dez sacerdotes realmente desapegados do mundo, tornar tudo e todos tributário do Reino de Cristo.

E nós, meus queridos congregados, quantas ve­zes e com quanta insistência nos últimos tempos, suspi­ramos e ansiamos pelo Espírito Santo! Veni Sancte Spiritus – sim, vinde, vinde ó Espírito Santo! Sabemos que para vós é muito fácil transformar-nos inteiramente, le­var à plena realização todos os bons impulsos e forças que existem em nós. O vinde! Enchei com a força da vossa graça o coração que vós mesmo criastes!

Referência:

Pe. José Kentenich. Conferência aos Congregados Marianos. Schoenstatt – 31 de maio de 1914.
Kentenich. José. Movido pelo Espírito Santo. Textos escolhidos sobre o Espírito Sant. Instituto Secular dos Padres de Schoenstatt. São Paulo/SP, pág. 29 a33