Como temos que rezar para que Deus nos escute favoravelmente?
Especialmente decisiva para a fecundidade da oração é nossa atitude na oração.
Pe. Nicolás Schwizer – No Antigo Testamento, Deus se revela a nós como salvador dos oprimidos e dos necessitados. Manifesta sua preferência pelos pobres, sempre tendo como sua a causa deles. Porém, os pobres da Bíblia não são sempre e somente os economicamente desfavorecidos; são os pobres que se enriquecem com Deus e tudo esperam d’Ele; são os que buscam sua proteção e colocam toda sua confiança apenas n’Ele; são aqueles vazios de si mesmos e abertos para os dons de Deus. É essa a atitude da pobreza espiritual que, no fundo, é a atitude de humildade que Deus espera em nossa oração.
Assim, os pobres são os radicalmente humildes, porque a verdadeira humildade nos faz colocar nossa confiança apenas em Deus, em sua ajuda e misericórdia.
Porém, apesar de toda nossa atitude autêntica, nossa oração não é sempre escutada favoravelmente por Deus, porque depende não apenas da atitude, mas sim também do conteúdo de nossa oração.
O verdadeiro sentido de nossa oração não é mudar a Deus, mas, sim, mudar a nós mesmos e nos colocarmos dependentes d’Ele. Clamamos a Deus que cumpra nossa vontade, que se coloque a nosso serviço; porém, rezar, orar é exatamente ao contrário disso. É pedir a Deus que se cumpra a sua vontade, que se realize seu plano, que nos coloquemos inteiramente a seu serviço.
Quando queremos escutar música pelo rádio, precisamos sintonizá-lo e captar a frequência adequada. Assim é com nossa oração: precisamos ajustar nossos próprios planos aos planos de Deus; precisamos nos adaptar à vontade de Deus, como pedimos no Pai Nosso: Faça-se a vossa vontade, (assim) na terra como no céu.
Certamente, Deus Pai tem um plano de vida que é um plano de amor para cada ser humano, para conduzir e levar cada um de nós ao seu reino, até sua casa. Respeitando nossa liberdade, Deus busca – sempre novamente – nosso consentimento e nossa cooperação nos diversos passos desse plano. Adaptando-nos à vontade de Deus em nossa oração, trilhamos o caminho para esse plano divino, vencendo todos os obstáculos.
Assim entendemos por que nossa oração é às vezes atendida, outras vezes, não. Quando nossas preces são atendidas é porque acertamos exatamente sua vontade, o plano inalterável de Deus. Essa aceitação se realiza, geralmente, em nossas súplicas espirituais e sobrenaturais, porque Deus sempre deseja o progresso e a salvação de cada um de nós. Ao contrário, quando se tratam de súplicas mundanas – saúde, trabalho, êxito, bens materiais – muitas vezes Deus não nos escuta porque nossas preces são incompatíveis com o Seu plano. Tudo que não está no plano divino acaba sendo empecilho, não é proveitoso para minha salvação. Porém, em vez de atender ao pedido, Deus me concede outro bem melhor, que convém ao seu plano divino, porque seu amor paternal responde a todas as minhas preces, ainda que de outra maneira. Muitas vezes, me dá sua força e sua graça para suportar melhor minhas dificuldades. Não tira de mim minha cruz pessoal, como lhe pedi, porém me ajuda a carregá-la com valentia.
O sentido de nossa oração não é mudar a Deus, impor-lhe nossa vontade. Rezar é exatamente ao contrário. Assim entendemos que rezar, de forma verdadeira e fiel, é uma força que transforma nossa própria vida, porque rezar assim é: pedir e permitir que a vontade de Deus se faça presente pouco a pouco a mim, no lugar da minha vontade; orar é introduzir, com minha ajuda, o plano do Pai e seu Amor abundante em mim e em todos os seres humanos; orar assim, enfim, é assegurar – de forma infalível – minha perfeição e a perfeição de todo o mundo.
Tradução de Maria Rita Vianna