Pe. Nicolás Schwizer – O verdadeiro jejum é fazer justiça, fazer obras de misericórdia, ajudar ao irmão necessitado.

Em diversas passagens do Evangelho, Jesus parece não dar muita importância ao jejum, pelo menos na forma como os judeus praticavam. Jesus, em vez de desobrigar do jejum como a lei fazia, ele reage contra um asceticismo exagerado.

Proíbe colocar vinho novo em odres velhos: não se submete às mortificações do asceta, portando-se com a liberdade irradiante de um Filho de Deus.

Cristo não quis nem buscou a cruz. Ele amou e obedeceu; a cruz lhe caiu encima por acréscimo. A nobreza da paixão de Cristo provém de que não foi uma obra de ascese, uma mortificação premeditada; foi, sim, simplesmente, uma fidelidade de amor.

Cristo não perdeu tempo buscando a maneira de sofrer. Não se afastou de seu Pai nem de sua missão para ocupar-se de si mesmo, nem sequer desse modo. Buscou em tudo a vontade de seu Pai e se entregou inteiramente aos seres humanos.

Foi exatamente isso que o levou à cruz. E é exatamente essa cruz que Jesus nos convida a carregar: a que resulta naturalmente do amor a Deus e ao próximo, e não a que nós mesmos gostaríamos de escolher.

Nosso jejum, então, é autêntico se o fazemos por amor – por amor a Deus, por amor ao irmão necessitado, a quem ajudamos com nossa esmola, etc.

Porque o autêntico amor não apenas se liberta de si mesmo; vai além, em busca do outro. É a força unitiva que não se contenta com um simples estar com o outro ou junto do outro.

É amor que impulsiona até o mais profundo estar no outro. É um dizer-se mutuamente: “eu em ti, tu em mim e os dois um no outro”.

O amor busca e encontra a união espiritual entre o tu e o eu. Leva-nos a uma união de corações, a um intercâmbio de corações, uma fusão de corações. A meta da Aliança com Maria é chegar a ser um só coração e uma só pulsação.

É a comunidade de destinos: a ideia é que nos pertencemos um ao outro por toda a eternidade. Isso vale para com a Virgem, como com meu esposo, minha esposa, com minha família, com meu grupo. Já não estamos sós: Deus nos vê sempre juntos.

Deus não gosta quando alguém vai sozinho ao Seu encontro; não quer nos ver sozinhos diante d’Ele, mas, sim, juntos com nossos aliados.

É como se nos perguntassem: Onde estão teus entes queridos? Onde estão teus irmãos de comunidade? Quando rezamos ou vamos à igreja, precisamos levá-los, todos, conosco, precisamos unir-nos espiritualmente com todos eles. Esta é uma verdadeira comunidade de destinos.

Entretanto, essa união de corações não é coisa fácil; custa-nos e nos faz sofrer, porque, aqui na terra, todo amor profundo deve ser elevado na cruz.

Porém, não tenhamos medo da cruz e do sacrifício, porque à paixão e à morte na cruz segue a manhã da Páscoa de Ressurreição, com a conquista vitoriosa do mundo.

A Sexta-feira Santa é sempre a garantia imprescindível para que brilhe o sol da Páscoa.

Queridos irmãos, pedimos à Virgem Maria que nos dê forças e graças para nos encontrarmos e nos unirmos mais profundamente com Ela. Que nos esvaziemos de nós mesmos e sejamos plenos de seu amor e fidelidade! Que, também, cresçamos no amor e na entrega a todos nossos irmãos!

Tradução de Maria Rita Vianna