O Senhor ressuscitou verdadeiramente, aleluia. A Ele a glória e o poder pelos séculos dos séculos.
A Ressurreição gloriosa do Senhor é a chave para interpretarmos toda a sua vida e o fundamento da nossa fé. Sem essa vitória sobre a morte, diz São Paulo, toda a pregação seria inútil e a nossa fé vazia de conteúdo. Além disso, na Ressurreição de Cristo apoia-se a nossa ressurreição futura. Porque Deus, rico em misericórdia, impelido pelo grande amor com que nos amou, deu-nos a vida ao mesmo tempo que a Cristo, quando estávamos mortos em consequência dos nossos pecados… Com Ele nos ressuscitou (Ef 2, 4-6).
A Ressurreição do Senhor é uma realidade central da nossa fé católica, e como tal foi pregada desde o início do cristianismo. A importância deste milagre é tão grande que os Apóstolos são, antes de mais nada, testemunhas da Ressurreição de Jesus[1].Este é o núcleo de toda a sua pregação, e isto é o que, depois de vinte séculos, nós anunciamos ao mundo: Cristo vive! A Ressurreição é a prova suprema da divindade de Nosso Senhor.
Depois de ressuscitar pelo seu próprio poder, Jesus glorioso foi visto pelos discípulos, que puderam certificar-se de que era Ele mesmo: puderam falar com Ele, viram-nos comer, verificaram as marcas dos pregos e da lança no seu corpo… Os Apóstolos declaram que Jesus se manifestou com muitas provas[2], e muitos deles morreram em testemunho dessa verdade.
São Leão Magno diz de uma forma muito bela que Jesus se apressou a ressuscitar porque tinha pressa em consolar sua Mãe e os discípulos[3]: esteve no sepulcro o tempo estritamente necessário para cumprir o três dias profetizados. Ressuscitou ao terceiro dia, mas o mais cedo que pôde, ao amanhecer, quando ainda estava escuro[4], antecipando o amanhecer com a sua própria luz.
O mundo tinha ficado às escuras. Só a Virgem Maria era um farol no meio de tantas trevas. A Ressurreição é a grande luz para todo o mundo: Eu sou a luz[5], tinha dito Jesus; luz para o mundo, para cada época da história, para cada sociedade, para cada homem.
Na Vigília Pascal, vimos como no começo da cerimônia reinava no templo uma escuridão total, que era imagem das trevas em que a humanidade jaz sem Cristo, sem a revelação de Deus. Pouco depois, o celebrante proclamou a comovedora e feliz notícia: A luz de Cristo, que ressuscita glorioso, dissipe as trevas do coração e do espírito[6]. E da chama do círio pascal, que simbolizava Cristo, todos os fiéis receberam a luz: o templo ficou iluminado com a luz do círio pascal e a de todos os fiéis. É a luz que a Igreja derrama generosamente sobre a terra mergulhada em trevas.
A Ressurreição de Cristo é um forte chamado ao apostolado, isto é, a que sejamos luz, a fim de levarmos a luz aos outros. “A nossa missão de cristãos é proclamar essa realeza de Cristo, anunciá-la com a nossa palavra e as nossas obras.
A Virgem Maria, que esteve acompanhada pelas santas mulheres nas horas terríveis da crucifixão do seu Filho, não as acompanhou na piedosa tentativa de acabar de embalsamar o corpo morto de Jesus. Maria Madalena e as outras mulheres que haviam seguido Jesus desde a Galileia, tinham esquecido as suas palavras sobre a Ressurreição ao terceiro dia. Mas a Virgem Santíssima sabe que Ele ressuscitará. Num clima de oração que nós não podemos descrever, Maria espera o seu Filho glorificado.
Uma tradição antiquíssima da Igreja diz-nos que Jesus apareceu em primeiro lugar à sua Mãe Santíssima. Em primeiro lugar, porque Ela era a primeira e principal corredentora do gênero humano, em perfeita união com o seu Filho. A sós, já que esta aparição tinha uma razão de ser muito diferente das demais aparições às mulheres e aos discípulos. A estes, o Senhor tinha que reconfortá-los e conquistá-los definitivamente para a fé. A Virgem, que já havia sido constituída Mãe do gênero humano reconciliado com Deus, não deixara, em momento algum, de estar em perfeita união com a Santíssima Trindade. Toda a esperança na Ressurreição de Jesus que restava sobre a terra tinha-se refugiado no seu coração.
Depois de tanta dor, a Virgem encheu-se de uma imensa alegria. “A estrela da manhã – diz Frei Luis de Granada – não surge com tanta formosura como a que resplandeceu aos olhos da Mãe naquele rosto cheio de graças e naquele espelho da glória divina. Maria vê o corpo do Filho ressuscitado e glorioso, livre já de todos os maus tratos passados, recuperada a graça daqueles olhos divinos e ressuscitada e aumentada a sua primeira formosura. As feridas das chagas, que tinham sido para a Mãe como espadas de dor, viu-as convertidas em fontes de amor; àquele que vira padecer entre ladrões, vê-o agora acompanhado de anjos e santos; àquele que a confiara do alto da cruz ao discípulo, vê-o agora estender-lhe os seus braços, vê-o ressuscitado diante dos seus olhos. Nós nos unimos a essa imensa alegria da nossa Mãe.
Conta-se que, nesta festa, São Tomás de Aquino aconselhava todos os anos os seus ouvintes a não deixarem de felicitar a Virgem pela Ressurreição do seu Filho[7]. É o que nós fazemos a partir de agora, começando hoje a rezar o Regina Coeli, que ocupará o lugar do Angelus durante o tempo pascal: Rainha do Céu, alegrai-vos, aleluia! Porque aquele que merecestes trazer no vosso seio ressuscitou como disse, aleluia! (…) E lhe pedimos que nos alcance a graça de ressuscitar para sempre de todo o pecado, a fim de permanecermos em íntima união com Jesus Cristo. Façamos o propósito de viver este tempo pascal muito unidos a Santa Maria.
Texto de Frei Alberto Beckhäuser, OFM. Celebrar a vida cristã.
[1] Cf. At 1, 22; 2, 32; 3, 15; etc.
[2] Cf. At 1,3.
[3] S. Leão Magno, Sermão 71, 2.
[4] Cf. Jo 20, 1.
[5] Cf. Jo 8, 12.
[6] Missal Romano, Vigília Pascal.
[7] Cf. Fr. J. F. P., Vida e misericórdia da Santíssima Virgem, segundo os textos de S. Tomás de Aquino,p. 181-182. Segóvia, 1935.